Tendo como meta o sucesso dos filhos, os pais frequentemente se sentem confusos sobre as melhores estratégias a adoptar, sem saber como e quando valorizar, quando estabelecer limites. Nessa confusão sentida, muitas vezes acabam por se irritar com o comportamento, com os pequenos insucessos, levando a atitudes de irritabilidade e conflitos.
Querendo criar crianças felizes que se transformem em adultos realizados, será então fundamental que estas sintam confiança nas suas capacidades e que gostem de si. Auto-confiança e auto-estima são conceitos frequentemente utilizados que merecem alguma reflexão.
O sentimento de si próprio como indivíduo começa a ser observado na primeira infância e desde os primeiros meses de vida, os pais têm um papel activo na construção de uma auto-imagem positiva ao encorajarem o bebé a desempenhar algumas tarefas sozinho.
A auto-confiança leva a que a criança confie nas suas capacidades. Para que esta competência seja desenvolvida, é fundamental que os pais acompanhem e valorizem os seus sucessos e a encorajem nos momentos de maior dificuldade em atingir objectivos - sejam eles escolares ou relacionais, ajudando a que os insucessos se transformem em oportunidades de crescimento, considerando os desempenhos adequados à idade ou circunstância. Deste modo, a criança irá aceitar-se a si própria com as suas virtudes e limitações, estando assim a alimentar a sua auto-estima.
Estimulando a criança de forma positiva, capacitando-a para sonhar, desenvolver metas, ter prazer nos processos em que se envolve, transmitindo-lhe amor incondicional, a criança sentirá maior motivação para as tarefas que tem em mãos, bem como para melhorar naquilo que pode, não sentindo a pressão de um ideal imposto pelos pais - a criança sabe que é aceite e que os seus esforços são compensados ao nível relacional e também, no caso de actividades escolares, das notas.
Naturalmente que, para a estruturação das crianças, estas terão de ter limites e saber ouvir "não". A investigação tem demonstrado que pais que adoptam um estilo parental participativo - isto é, com práticas de diálogo, negociação, afecto, reflexão conjunta, encorajamento e exigência de cumprimento de regras - têm filhos com maior sucesso escolar e social. De facto, se é importante que os filhos tenham boas notas, o amor parental não é condicionado por esse facto. As crianças precisam sentir que os pais os amam incondicionalmente, mesmo quando estabelecem limites (que naturalmente serão questionados pelas crianças e jovens), quando dizem "não" ou quando os filhos cometem erros, e que estas posturas sejam acompanhadas de uma explicação ou reflexão conjunta sendo que, em algumas situações, possam ser negociadas.
Se as regras são fonte de discórdia em casa, a acalmia poderá vir com a maior comunicação - e comunicar não acontece apenas quando os pais dialogam com os filhos, mas também nas atitudes que vêem os pais terem entre si, com eles próprios e com outros elementos da família e comunidade - se os pais frequentemente têm posturas mais negativas, entram em conflito, são inflexíveis ou se "esquecem" de pedir "se faz favor" ou dizer "obrigado", será natural que os filhos tendam a replicar os comportamentos observados, considerando essa a postura de referência no meio social.
É ainda fundamental ajudar a criança a desenvolver um sentido crítico e a saber tomar as suas decisões, de destrinçar o bem do mal, isto é, do que lhe faz e não sentido. Assim sendo, os pais poderão contribuir, fomentando um clima que valorize a capacidade de pensamento, reflectindo em conjunto sobre dilemas morais com que tão frequentemente nos deparamos no nosso quotidiano e ajudando-os a constatar as múltiplas perspectivas possíveis, com consequências para as diferentes partes envolvidas.
A capacidade de pensar por si, tomar decisões e avaliar as consequências é efectivamente útil para o desenvolvimento psicossocial da criança - mais do que passar uma verdade ou doutrina, a educação passa por ajudar as crianças e jovens a pensar sobre os valores implicados nas diferentes situações e consequências para si e para os outros. Desta forma, a criança não tem necessidade de se afirmar perante os outros, desenvolvendo um sentido de justiça e capacidade de descentração, conseguindo colocar-se no lugar do outro e considerando a sua opinião como refutável.
Ter tempo de qualidade com os filhos, com espaço para os pais partilharem também um pouco de si, das suas emoções, das suas histórias, dos seus sucessos e insucessos, procurando ainda desenvolver actividades conjuntas, promoverá uma maior coesão da família e, como tal, maior bem-estar. A felicidade das crianças passa pelo amor, não pelos bens materiais. Há que estimular a criança mais para o ser do que para o ter - assim desenvolverá competências emocionais e pessoais que a ajudarão toda a vida a construir mais momentos de felicidade.
Uma criança que se sinta amada e valorizada, com espaço para aprender com os seus erros e continuar a evoluir, capaz de perceber os limites, mais facilmente se sentirá integrada nos espaços sociais em que se movimenta - família, escola e amigos.
Catarina Rivero & Marta Borges Pires