A tarde solarenga a acusar já o início das férias grandes fez com que a sala de cinema para a exibição da versão dobrada em português de "Shrek, o Terceiro", no NorteShopping, em Matosinhos, estivesse quase preenchida por adolescentes. E, a avaliar pelos números cedidos pela distribuidora Lusomundo, o público-alvo da terceira saga de Shrek são mesmo as crianças.
Ainda assim, e porque as duas versões anteriores conseguiram reunir a família inteira em frente ao ecrãn, "Shrek, o Terceiro" é já o detentor da "maior abertura de sempre de um filme de animação", em Portugal, registando-se no primeiro fim-de-semana de estreia 193 mil espectadores.
Dentro da sala, um grupo de adolescentes destacava-se . De pacote de pipocas em punho e refrigerante de tamanho XL, falavam alto, enquanto seguiam atentos os anúncios.
Nas cadeiras de trás, petizes com menos de seis anos, idade recomendada para ver o filme, acompanhados pelos pais, tentavam no escuro esconder o sono "Ó mãe, afinal, onde está o Shrek". Para eles, de palmo e meio, quase a embalar o ogre verde de peluche que tinham ao colo, o mais importante era seguir o rasto do protagonista. E, quanto muito, associavam a figura de Shrek (na voz de José Jorge Duarte) à da "namorada" Fiona (Cláudia Cadima).
"Mete o filme, pá. É o que eu digo, está uma pessoa a pagar para ver anúncios", refilava o Luís, de bigodinho principiante que denunciava os seus 14 anos.
Descaradamente, ele e os amigos gozavam o risinho prematuro dos mais pequenos, que acham graça a qualquer gesto exagerado de Shrek, como a falta de jeito do ogre em caber dentro de um fato barroco de rei.
Já os adolescentes, esses, soltavam gargalhadas perante a irresponsabilidade contínua de Shrek e ao seu sotaque saloio.
Seja como for, no clímax da acção - quando Shrek partiu em busca do legítimo herdeiro do trono e o reino é invadido pelo príncipe Charmoso -, a sala viveu de um silêncio generalizado. Os pequenitos seguiam confusos a inclusão de centenas de personagens, como a Cinderela, a Bela Adormecida, a Branca de Neve, a Rapunzel, o Pinóquio, o Burro e o Gato das Botas, que juntamente com Fiona tentam salvar o reino.
Quanto aos dolescentes, que desistiram de sair a meio, mostravam-se viciados no enredo. Afinal, o filme preenchido de gíria como "totil", "beca" e "garina" era a cara perfeita deles.