Há mais de 500 crianças à espera de ser adoptadas em Portugal, mas o número de candidatos é quatro vezes maior ao de crianças e jovens que aguardam por uma família. A maior parte dos candidatos em lista de espera, prefere adoptar apenas uma criança até aos três anos. Sem problemas de saúde ou deficiências.
Os dados do Instituto de Segurança Social mostram que, em Junho, eram 567 as crianças em situação de adoptabilidade jurídica. Destas, seis tinham sido adoptadas, em Agosto, e 64 tinham já proposta de família. 500 estavam em fase de pré-adopção.
Também no sistema, mas do lado dos pais em lista de espera há 2316 candidatos.
Há mais rapazes (60%) do que raparigas para adoptar e a maioria tem entre os sete e os 15 anos. 186 têm entre 11 e 15 anos, 159 têm idades entre os sete e os 10. Entre os mais novos, 114 têm entre os zero e os três anos e 108 têm entre os quatro e os seis.
A adopção é o tema do congresso internacional na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, que reunirá vários especialistas em torno do tema "Família e adopção -- construção da identidade".
O congresso organizado, pelo Instituto de Segurança Social (ISS), pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e pela CrescerSer, pretende pôr em comum um tema central na adopção: "a questão da identidade dos indivíduos e famílias na promoção e construção deste projecto de vida e na sua vivência socialmente integrada".
Diz o ISS, que a maior parte dos candidatos em lista de espera (2154) prefere as crianças com idade até aos três anos. Apenas 23 não se importa de acolher jovens entre os 11 e os 15 anos.
"Até aos seis anos, o número de pretensões é cerca de 15 vezes superior ao número de crianças disponíveis", enquanto que "acima dos sete anos o número de pretensões corresponde a 4/5 das crianças disponíveis", escreve a Lusa, que teve acesso aos dados.
Entre as crianças que estão para adoptar, 217 têm irmãos, referem os dados, especificando que existe um grupo com cinco irmãos, cinco grupos de quatro irmãos, 18 de três e 69 com dois irmãos.
"Só cerca de 1/5 dos candidatos em lista de espera aceitam adoptar irmãos", observa o Instituto de Segurança Social.
Perto de metade das 567 crianças em situação de adopção tem problemas de saúde: 111 ligeiros, 84 graves e 80 são portadores de deficiência.
O ISS salienta que o número de crianças com problema e/ou deficiência é superior ao número de candidatos que as aceitam e, por outro lado, o número de candidatos (2111) que pretendem crianças sem problemas de saúde é cinco vezes superior ao de crianças disponíveis (375).
Segundo o Instituto, para as 84 crianças com graves problemas de saúde há apenas um candidato, o mesmo se passa com os 80 meninos com deficiência que apenas têm o interesse de dois candidatos.
Em 2010, os serviços de adopção dos Centros Distritais do ISS propuseram e integraram em famílias adoptantes 384 crianças, sendo que destas 297 foram decretadas pelos tribunais. Estes dados não contemplam as adopções concretizadas pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e pela Segurança Social da Madeira e dos Açores.
Nesse ano, 12 crianças regressaram à alçada do Instituto de Segurança Social, vendo assim "interrompido o seu processo de pré-adopção" por ter-se constatado "não existir viabilidade de concretização daquele projecto".
"Apesar de se tratar de um número residual, equivalente a 3%, e o menor dos últimos cinco anos, merece a nossa preocupação, pelo que temos vindo a trabalhar no sentido de minorar a sua existência. Uma das apostas feitas tem sido na formação para a adopção", sublinhou o ISS.