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100 gramas de cereais têm 4,7 pacotes de açúcar
12-10-2008
Deco / DN
  Estudo internacional coordenado pela Deco alerta para o excesso de açúcar nos cereais para crianças. Portugal não foge à regra e a associação diz que falta vontade política para implementar medidas restritivas à publicidade. Uma em cada três crianças no País tem excesso de peso.

   Cada 100 g de cereais para crianças comprados na Europa tem 4,7 pacotes de açúcar (36 gramas). E se for adquirido nos Estados Unidos aumenta para 5,4 unidades. Esta é a média, porque há variedades muito mais açucaradas. A Deco apela aos pais para que não façam destes produtos a principal alimentação dos pequenos-almoços dos filhos, já que os fabricantes e anunciantes não alteram as práticas. E considera que, em Portugal, "falta vontade política para criar legislação restritiva à publicidade a estes produtos".

   O estudo comparou 171 cereais de pequeno-almoço para as crianças em 31 países, tendo-se analisado a quantidade de açúcar, de gordura, de hidratos de carbono e de sal. "Em todos os produtos verificámos que é excessiva a quantidade de açúcar, o que é preocupante uma vez que constituem pelo menos uma refeição por dia. Os cereais são de fácil preparação e há uma grande pressão comercial, o que faz deles alimentos de grande consumo", diz Fernanda Santos, técnica da Deco especialista na área alimentar.

   Foi a associação portuguesa que coordenou o trabalho promovido pela Consumers Internacional. O objectivo é provar que os cereais publicitados para os mais novos lhes são prejudiciais. E que o melhor é optar pelo pão, leite e fruta ou, então, cereais que não lhes são especialmente destinados, em regra, muito menos açucarados.

   A situação é mais preocupante nos Estados Unidos (5,4 pacotes de açúcar por 100 g, mas o Kellogg's Honey Smacks tem sete), seguindo-se a Ásia e a Oceania (cinco), a Europa (4,7) e, por último, África (3,9).

   Os resultados levaram aquela federação, que congrega 220 organizações de consumidores, a lançar um apelo à Organização Mundial de Saúde para que promova o desenvolvimento de um código de boas práticas do marketing alimentar.

   Portugal sem restrições

   As dez marcas testadas em Portugal chumbaram na avaliação às quantidades de açúcar. Os menos maus são o Rik & Rok Cao Flakes, por ter menos sal, e o Chocapic Duo e Kellogg's Chocos, por terem menos gordura. Isto, quando na embalagem chamam a atenção para a importância das vitaminas, minerais e cereais integrais e na publicidade são apresentados como um bom produto para o pequeno-almoço, facto que os técnicos da revista refutam.

   Fernanda Santos diz que pode ser considerada publicidade enganosa. "Não é fácil para o consumidor compreender a rotulagem e os fabricantes tendem a simplificar a linguagem nutricional. Mas o que se destacam são as vitaminas e sais naturais que podem ser encontrados na fruta, por exemplo". E, perante a justificação de que os menores não aceitam outro tipo de comida, sublinha: "Estamos a habituar as crianças a alimentos muito açucarados e o paladar também pode ser educado. E deve ser a família e, também, a escola a educar".

   Aquela técnica diz que a associação testa alimentos para crianças regularmente e encontra sempre excesso de açúcar, de sal ou gordura, isto apesar da Federação Portuguesa das Indústrias Agro-alimentares dizer estar preocupada com a questão. E, a nível da publicidade, os consumidos são bombardeados com anúncios a "forçar o consumo de produtos pouco interessantes do ponto de vista nutritivo", apesar do código de boas práticas da Associação Portuguesa de Anunciantes.

   "A situação não se alterou e achamos que o Governo devia promover legislação a restringir a publicidade a alimentos para crianças. Mas falta vontade política para o fazer", critica Fernanda Santos. E acrescenta que a Comunidade Europeia tem apelado às boas práticas da indústria e dos anunciantes, mas é cada vez maior a pressão para alterar a legislação nacional. A Inglaterra e a França já impuseram restrições enquanto que a Suécia proíbe toda a publicidade.


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