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Música no hospital ajuda crianças e pais a esquecer a dor
10-03-2008
RTP
  Os instrumentos clínicos dão lugar aos musicais duas vezes por semana no Hospital Garcia de Orta, Almada, onde crianças internadas, pais e profissionais de saúde fazem parte de uma "orquestra" que toca melodias para fazer esquecer a dor.

   Desde há dois anos que as manhãs de segunda e quinta-feira se tornaram mais alegres no estabelecimento hospitalar graças ao "Música nos Hospitais", um projecto com músicos profissionais que pretende humanizar os cuidados de saúde nos hospitais e instituições de idosos.

   À hora marcada, Ana Paula Góis e Diana Matos chegaram ao hospital. Cuidadosamente, começam a encher um carrinho com vários instrumentos musicais coloridos, alguns deles feitos pelos músicos com cascas de nozes e outros materiais, caixinhas de música e espanta-espíritos que vão ser partilhados com os doentes, familiares e profissionais.

   De seguida, vestem uma bata e percorrem todas as camas dos serviços de pediatria e obstetrícia do hospital. A primeira paragem é na Unidade de Cuidados Intensivos pediátrica, onde Gonçalo, oito anos, esperava ansioso pelas músicas.

   Mal ouve as vozes de Ana Paula e Diana, Gonçalo rasga um sorriso porque já sabe que vai viver um momento mágico proporcionado por uma música melodiosa que, por momentos, o faz esquecer que está no hospital.

   Na cama ao lado, Margarida, dois anos, acompanha todos os gestos das instrumentistas e escuta atentamente as canções à espera de poder interagir com as instrumentistas.

   A pouco e pouco, as crianças, as mães e enfermeiras entraram no ritmo, acompanhando-o com vários instrumentos e objectos que imitam sons de animais, que transformaram a enfermaria num espaço muito alegre e familiar.

   Sónia Francisco, mãe da Margarida, emocionou-se ao ver a filha a reagir à música, agitando os "shakers" ao sabor do ritmo.

   "Fico muito feliz, é sinal que está a melhorar", diz à agência Lusa Sónia, que desconhecia o projecto, mas desde logo reconheceu a sua importância para quem está internado.

   "Já não basta o que elas passam aqui, pelo menos que tenham algum momento de alegria e pensarem que não estão dentro do hospital", sublinha.

   Esta opinião é partilhada pela mãe de Martim, um bebé com apenas um dia que nasceu com taquicardia e se encontrava na Unidade de Cuidados Intensivos Neo-Natais a dormir embalado pela música "Edelweiss", emitida por uma caixinha de música.

   "A música quebra o gelo desta sala", afirma Leonor Santos.

   Para Dulce Guerreiro, enfermeira da Unidade de Cuidados Intensivos pediátrica, a música tem um efeito "bastante tranquilizador" para as crianças, mas também para os profissionais de saúde.

   "Para nós também é uma música diferente, não são os alarmes dos monitores, nem da medicação. É um alívio, um retirar do stress e da situação que se vive na sala", sustenta.

   Já Clara Rocha, enfermeira do serviço de Neonatologia, considera que esta iniciativa "faz todo o sentido", porque "alivia a dor" e faz com que as crianças tenham menos medo dos hospitais.

   "É trazer a cultura para dentro do hospital e proporcionar às crianças e aos pais este contacto com o alimento da alma de que estão privados", afirma Clara Rocha, defendendo, tal como Dulce Guerreiro, que o projecto devia ser diário.

   Músicas de profissão e com formação específica para actuar em meio hospitalar, Ana Paula Góis e Diana Matos estão desde 2004 no projecto, que já fez chegar a música ao Instituto Português de Oncologia, à Maternidade Alfredo da Costa, aos hospitais da Estefânia, Santo António, Santarém, Setúbal e brevemente ao Amadora-Sintra.

   Diana Matos conta que às vezes, sobretudo no início do projecto, tiveram algumas dificuldades em conquistar as pessoas, mas foi um obstáculo que foi sendo ultrapassado naturalmente.

   "Há pais que gostam de participar, outros não e nós não insistimos. Com os profissionais é a mesma coisa, nós respeitamos o trabalho deles e não interferimos", assegura.

   "Por vezes, até são alguns profissionais que nos chamam e dizem: vou ali tirar sangue a uma menina se vocês pudessem vir", conta Diana Matos.

   Sobre as reacções das crianças, Ana Paula Góis diz que são muito boas e são expressas com "sorrisos".

   "O sorriso é a porta que temos mais facilitadora, o perceber que conseguimos uma ponte de comunicação e que por mais doente que esteja é possível ainda sorrir", sublinha.

   Ana Paula Góis explica que os músicos preparam um reportório bastante vasto, que vão adaptando ao ambiente que encontram nos serviços e à disposição das pessoas.

   Apesar de o projecto se chamar "Música nos Hospitais", este também se desenvolve em instituições de idosos e de crianças em risco.

   "É outro tipo de situações e instituições em que o músico também faz a sua intervenção e tem um papel muito importante", afirma Ana Paula Góis.

   O Director do Serviço de Pediatria do Hospital Garcia de Orta, Anselmo Costa - que substitui a actual ministra da Saúde, Ana Jorge, que trouxe o projecto para Portugal -, revela que o "Música no Hospitais" é um entre vários projectos que estão a ser desenvolvidos no hospital para o tornar o mais agradável.

   "É nossa convicção que as crianças deviam ser, sempre que possível, tratadas em casa. Como isso muitas vezes não é possível, aquilo que tentamos é que o hospital não seja um sítio assustador, frio", sublinha à Lusa.

   No final de cada "concerto", não há palmas, mas há a convicção que, por momentos, a música fez aliviar a dor.

   "Aqui a música tem outro sentido", diz Ana Paula Góis.


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