O estudo realizado pelo BES e APEME indica que as crianças portuguesas têm uma atitude favorável à poupança (...) Temos de concluir que o grau de poupança é satisfatório.
Poupar é um verbo que as crianças conjugam com facilidade. Sobretudo se o tema de conversa for os recursos naturais ou o dinheiro. Este foi o tópico central de um estudo sobre os hábitos de poupança das crianças portuguesas, elaborado pela APEME para o Banco Espírito Santo. A julgar pelas conclusões, a inversão na queda na taxa de poupança está à distância de uma geração. É que 86% dos petizes entre os 6 e os 13 anos diz poupar dinheiro, muitos para guardar para o futuro.
O estudo de opinião, intitulado "A formação do sentido de poupança nas crianças portuguesas" começa por tentar averiguar o que estas entendem por poupar. E se a referência mais recorrente é o dinheiro, muitas crianças ligam a palavra à necessidade de conservação dos recursos, com 30% a aludirem à poupança de água e luz. "É importante poupar luz porque se gastarmos a luz toda, ficamos às escuras", afiança uma menina nos seus 6/7 anos. Que é como quem diz, se gastarmos o dinheiro todo...
Sem questionar o quê, certo é que quase todos poupam – 89% tem o hábito. E também quase todos praticam-no em relação ao dinheiro (86%). O estudo identifica o montante médio que as crianças dizem poupar por mês, que é de 14 euros. Mas também elas, como os pais, gostariam de poupar mais. Em média, os petizes acham que deviam guardar 22 euros por mês.
E como é que esta poupança compara com o dinheiro que recebem. O estudo incidiu sobre crianças de agregados familiares de classe média e média alta (C1 e B), tendo 51% dos inquiridos afirmado receber mesada ou semanada. Dois terços recebem até 29 euros, enquanto 16% "ganha" mais de 30 euros. O que aponta para uma taxa de poupança razoável.
"E para que serve a mesada?", pergunta a seguir o trabalho da APEME. A grande maioria diz que é para guardar ou poupar, enquanto 34% gasta-a a comprar coisas que gosta, como brinquedos, 17% usa-a para comida e 11% para material escolar.
Um resultado que contrasta com a intenção revelada pela maioria, de que o dinheiro que poupa, venha da mesada ou não, é para usar no presente. No global, só 30% apontam objectivos futuros como "ter dinheiro quando for grande", "poupar para quando for preciso" ou "comprar casa ou carro quando for grande".
Carlos Liz, director-geral da APEME, faz uma avaliação positiva: "O estudo indica que as crianças portuguesas têm uma atitude favorável à poupança", afirma, em declarações ao Jornal de Negócios. O responsável ressalva que o inquérito foi feito a crianças dos 6 aos 13 anos e não inclui os pais, pelo que torna difícil aferir com total objectividade o grau de poupança. Ainda assim, para Carlos Liz, "neste quadro de limitação metodológica, temos que concluir que o grau de poupança é satisfatório".
Se a larga maioria sabe que um banco serve para guardar dinheiro, a maioria diz não ter conta bancária (65%). O que indica que ainda há terreno a percorrer.
Mães no principal papel
"Ficámos a saber que a Poupança é um assunto falado (e praticado) em casa", refere Carlos Liz. E mostra o estudo que esse papel é desempenhado sobretudo pela mãe, o membro do agregado familiar que mais poupa (80%) e que mais deve poupar (66%). "Essa é a primeira condição para que haja um aumento de literacia infantil, já que a família é a primeira e mais poderosa instância de socialização das crianças", acrescenta o responsável da APEME. Mas não chega: "Quando falamos em literacia e pedagogia, temos sempre que convocar um actor fundamental, que é a escola. O tema não parece ser muito ventilado por educadores e professores. Seria muito bom que a poupança, no sentido financeiro, pudesse ser trabalhada nas escolas portuguesas. Seria uma forte ajuda para os pais e para as próprias crianças."
As instituições de apoio defendem que a formação financeira deste tenra idade é essencial para combater o recurso excessivo ao crédito, assim como os maus hábitos de consumo e de poupança verificados. "Passa tudo por investir na informação e também na formação das mentalidades", sugere Paulo Tomé Calado, do Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores.
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