Um filho adoptivo pode ter a certeza de que foi muito desejado!
Não conseguir engravidar pode transformar-se num pesadelo à medida que o tempo avança. Frequentemente surge a hipótese de uma fertilização In Vitro.
Começam as consultas médicas, os exames, as tentativas muitas vezes frustradas. Quando estão prestes a esgotar-se as hipóteses, eis que surge uma nova luz ao fundo do túnel – a adopção.
Inicia-se um novo percurso. A espera é longa e penosa, mas compensa. Poucos são os casais que conseguem adoptar um recém-nascido o que, em parte, facilitaria todo o processo de adaptação. Adoptar um bebé, permite que sejam estabelecidos laços desde tenra idade, e que os pais possam assistir a todas as etapas do desenvolvimento (em tudo semelhante ao que se passaria com um filho biológico). Por outro lado, se a criança é muito pequena, reduz-se o tempo em que se terá sentido abandonado e/ou maltratado o que, por sua vez nos permite descansar quanto a possíveis sequelas psicológicas que daí advenham. Contudo, a realidade impõe-se e são poucas as famílias que recebem uma criança logo nos primeiros momentos de vida.
A fase de adaptação
Algumas mães revelam que sentiram, no início, alguma culpabilidade por não se sentirem "verdadeiramente mães". Mas tudo é uma questão de tempo. Pouco a pouco, vai sendo possível relaxar, desprenderem-se das tensões acumuladas e investirem a fundo no filho.
É também normal, que nos primeiros tempos, o bebé sinta alguma estranheza face a pessoas que não conhece e que vá frustrar as expectativas. Quem lida com crianças já se apercebeu que a partir do 8º mês, as relações com as pessoas desconhecidas passa a ser bastante diferente. Se até aí o bebé passava de colo para colo sem se manifestar, ao surgir a denominada "angústia do estranho", tudo se modifica.
É possível que a criança chore e tente esquivar-se ao contacto mas, com paciência e carinho, facilmente se reverte esta situação e nasce a confiança. É preciso ter sempre presente que uma criança dada para adopção é sempre muito carente de afecto e de atenção, portanto vai rapidamente tornar-se receptiva.
Estabeleça limites desde o início
No caso das crianças mais velhas, o primeiro ano é especialmente complicado. A criança quer testar os limites, provar se o carinho e o amor dos pais resiste aos ataques por ela infringidos. É importante que, desde o primeiro momento, se estabeleçam regras de "amor firme" isto é, os pais deverão mostrar que precisamente por gostarem muito dele/a é que têm de a/o educar.
As regras transmitem segurança, estruturam e revelam uma consistência importante para o desenvolvimento. É também fundamental que sejam explicadas, ao invés de impostas. Uma criança reage muito melhor a uma regra, quando compreende para o que serve. É por isso que os pais democráticos obtêm melhores resultados com a educação que dão aos filhos, que os pais autoritários, ou mesmo os permissivos.
Educar é traçar linhas de conduta, que sirvam de referência para a que criança tenha onde se apoiar, não é apoiá-la constantemente, porque isso restringe a liberdade e impede a autonomia.
Modere-se!
Muitos meninos que são entregues para adopção, carregam consigo pesados fardos de maus tratos e abandono, por este motivo, e por constituírem a materialização de um sonho alimentado ao longo de muito tempo, é provável que a tendência dos pais adoptivos seja a de os super protegerem e encherem de brinquedos.
Escusado será dizer que este tipo de educação não é, de todo, recomendável. Passa a haver, ao nível inconsciente, uma associação entre o material e o afectivo, do tipo "ele não me dá um computador porque não gosta de mim", raciocínio este que é altamente nocivo para o desenvolvimento afectivo da criança. Saber gerir as frustrações é fundamental para que a vida adulta possa ser pautada de sucessos.
Quando dizer a verdade?
Os pais, movidos pelo receio de perderem o amor dos filhos, ocultam muito tempo o facto deste ser adoptado. A integração social preocupa-os, uma vez que temem que a criança seja olhada de outro modo pelas pessoas se essa verdade estiver a descoberto.
Outras vezes não encontram formas de o dizer e vão deixando o tempo passar. Ocultar a verdade até à adolescência é contraproducente, e revelá-lo ainda mais tarde, também não favorece a aceitação por parte do jovem adoptado.
Curiosamente, muitos meninos adoptados referem que já desconfiavam da verdade, por isso no momento da revelação, emerge um sentimento de traição e de solidão porque, afinal de contas, são eles os únicos a desconhecerem a verdade Podem também sentir vergonha e a sua lógica de pensamento será "se os meus pais não me disseram mais cedo é porque isto era um segredo terrível". Assim sendo, o melhor a fazer é, desde sempre a criança estar a par da verdade e crescer no seio dela.
Eternas dúvidas
"Se fosse meu filho biológico seria igualmente irrequieto?"; "Será que ele se sente suficientemente amado?", estas são duas questões bastante comuns.
Mas a realidade é o que é, por isso, ao invés de se angustiar, concentre-se em dar ao seu filho todo o carinho que ele necessita para que possa crescer como qualquer criança, saudável e feliz.