É um dos maiores medos dos pais: e se o meu filho se torna um toxicodependente? Existem vários factores de risco, mas também existem factores de protecção. E nunca é cedo demais para começar a prevenir não só o uso de drogas como outros comportamentos danosos para a saúde.
A prevenção das dependências para crianças é acima de tudo educação para a saúde. Ao ensinar o seu filhote a lavar os dentes, a fazer a higiene pessoal, a incutir o gosto pelo desporto, está a aumentar os factores de protecção. Isto não quer dizer que fiquemos com a certeza absoluta de que o seu filho nunca consumirá drogas, mas estamos a aumentar a probabilidade de que não o faça. Mas isso não basta: a criança precisa de um ambiente seguro, afectuoso mas com regras. Tem de ser acarinhada, mas também tem de saber o que não pode ou não deve fazer. Se quiser originar problemas de comportamento, problemas psicológicos, uso de substâncias e coisas que tal nos seus filhos, pode começar por não lhes dar atenção, por deixá-los fazer tudo o que querem, por substituir afectos por playstations, por não passar tempo com eles. Evite passear; Evite brincar com o seu filho; Evite castigá-lo quando se porta mal se quer aumentar a probabilidade de comportamentos negativos.
A investigação na área das drogas tem identificado consistentemente factores de risco e factores de protecção. Uma boa educação, uma boa prevenção da toxicodependência feita pelos pais deve aumentar os factores de protecção e diminuir os factores de risco. Existem factores de risco e protecção individuais, familiares, relativos ao grupo de pares, à escola e relativos à comunidade. Para simplificar as coisas, vou abordar essencialmente os factores de risco e protecção familiares, escolares e de grupo de pares (amigos), que serão talvez os mais prementes para crianças e pré-adolescentes:
Factores de risco
Na Família:
• Uso de tabaco/álcool/drogas pelos pais (para uma criança isto normaliza e até reforça a ideia de que os consumos não fazem mal ou são uma coisa a imitar)
• Atitudes permissivas ou favoráveis ao desvio (uso de substâncias)
• Sobrelotação ou família numerosa
• Baixas expectativas de sucesso (próprios e filhos)
• Estilo permissivo ou autoritário (deixar fazer tudo ou não deixar fazer nada)
• Relações afectivas deterioradas ou inconsistentes
• Padrões de comunicação negativos (dizer, por exemplo: “Não prestas, não consegues” no lugar de “Falhaste mas és capaz de melhorar, eu ajudo-te”)
• Conflito familiar
No Grupo de pares (amigos):
• Integração em grupo de pares com consumo de substâncias ou conduta delinquente
• Atitudes favoráveis ao uso de substâncias
• Maior implicação no grupo do que na família
Na Escola
• Fracasso e abandono escolar
• Dificuldades nas transições de ciclo
• Organização e tamanho (grande) da escola
• Poucas oportunidades de participação e reforço
Factores de Protecção
Na Família:
• Supervisão e envolvimento dos pais nas actividades dos filhos (os dois pais, não só a mãe…)
• Estrutura familiar pequena (menos de 4 filhos, com pouca diferença de idade entre eles)
• Expectativas elevadas e realistas (Pode-se dizer que o Luizinho tem capacidade para chegar a médico, mas também é preciso dizer que terá de estudar muito para lá chegar)
• Estilo democrático (as regras devem ser claras e adequadas, até com alguma negociação, mas sem esquecer quem é que tem a última palavra)
• Família coesa e apoiante, com fronteiras claras (Pai é pai, é afectuoso, apoia, mas não é o coleguinha da escola…)
• Padrões de comunicação claros
• Tradições e rituais familiares (Jantar em família, festejar aniversários e outras ocasiões, passear ao Domingo, etc.)
No Grupo de Pares (amigos):
• Vinculação a grupo de pares “convencional” (pertença a grupo de amigos “normais”)
• Normas de grupo que não aprovam o uso de substâncias (quando se diz que o desporto previne o uso de substâncias, falamos não só do desporto em si, mas também dos valores do grupo que pratica desporto, em que na maior parte dos casos, o uso de drogas - legais ou ilegais – é mal-vista e que para além disso promove o trabalho em equipa, o respeito pelo outro, o lidar com o fracasso e a derrota, o investir para conseguir um objectivo)
Na Escola:
• Oportunidades de participação (possibilidade de entrar em actividades da escola – Jornal da escola, Clubes, etc)
• Reforço pela implicação na escola (os pais devem motivar os filhos a participar e devem recompensá-los – não necessariamente com prendas caras. Fazer com eles uma coisa que queiram – ir ao Jardim Zoológico ou ao Oceanário tem mais vantagens – até mesmo na relação pais-filhos – que oferecer uma playstation)
Como já referi, estas não são receitas para ser ou deixar de ser um consumidor de drogas (e quando digo drogas, também falo do tabaco e do álcool), existem muitos outros factores e é um facto indesmentível que em alguma altura da vida, os seus filhos terão contacto (diferente de consumo) com alguma droga. Um colega fumará, outro beberá ao sair à noite. Mas o seu filho optará mais depressa por não fumar ou por não beber (ou beber menos…) quando for adolescente se trouxer da base – da infância – factores de protecção fortes e poucos factores de risco.
E em relação às playstations (já que falei pelo menos 2 vezes nelas)…Também podem ser muito positivas! Jogar com o seu filho é mostrar que se interessa pelo que ele gosta, reforça a relação, é uma forma de estarem juntos numa actividade agradável e, claro está, também é divertido para si! Experimente e verá…
Obs: A descrição dos factores de risco e factores de protecção é baseada numa formação da Dra. Inês Abraão, psicóloga do Instituto da Droga e Toxicodependência - Delegação Regional do Norte.
Um sítio para os seus filhos consultarem, sobre drogas, é o
www.tu-alinhas.pt especificamente criado para jovens.