Para finalizar a série de artigos sobre a acção de sensibilização "O optimismo na educação dos nossos filhos…", abordamos agora a importância de estruturarmos tempos de lazer e divertimento na relação com a criança.
No frenesim que caracteriza o dia-a-dia de muitos de nós, constantemente olhamos para o relógio, apressados que estamos, pressionados com o peso das rotinas que não nos dão descanso…
Com frequência esta pressão interfere da forma menos desejável com o modo como nos relacionamos com as nossas crianças, porque também com elas vivemos "às pressas" e nem sempre estamos atentos às suas necessidades mais profundas.
Todavia, educar não é somente assegurar a satisfação de necessidades básicas de alimentação, de higiene ou de segurança. Abordamos em artigos anteriores as necessidades afectivas de reconhecimento e de valorização pessoal que todos nós sentimos (não somente os menores). De igual modo são vitais as necessidades de expressão de afecto através do toque e da proximidade física. Na relação com a criança, o "tempo de brincadeira" pode ser um caminho de excelência para cumprir a satisfação desse tipo de necessidades.
Por isso, educar com optimismo é também procurar criar tempos de divertimento, de tranquilidade, de troca de afecto, enfim, de brincadeira com a criança: as cócegas no sofá, um jogo de futebol no pátio ou na rua, um puzzle construído em conjunto, um desenho ou uma pintura "a dois" ou "a três".
Falamos de um tempo completamente isento de obrigações, deveres, regras, críticas ou reparos: um tempo de lazer puro! Podem ser 20 ou 30 minutos por dia, já seria bom (ainda que mais não signifique demais…).
É nestes momentos que se estreita a relação da criança com o adulto. Aliás, mais facilmente uma criança respeita e se aproxima de um adulto que brinca com ela (mas que também impõe regras nos momentos necessários), do que de um adulto que se limita à estruturação/correcção/controlo das suas atitudes e comportamentos.
Além de tudo, o brincar pode ser pedagógico, ensinando a criança a ensaiar atitudes face ao insucesso ou frustração (em jogos de ganhar/perder, por exemplo), estimulando a sua imaginação, criatividade e capacidades motoras, linguísticas ou outras, ou simplesmente abrindo portas para o estabelecimento do diálogo, enquanto se brinca.
É por isso que a brincar, a brincar… podemos, sem dúvida, educar!
Maria José Ribeiro (Psicóloga U.P.) exerce funções na área de intervenção comunitária no O Abrigo - Centro de Solidariedade Social de S. João de Ver (Santa Maria da Feira)
Referências:
- Biddulph, S. (2001). O Segredo das Crianças Felizes. (Título original: The Secret of Happy Children.; Trad.: I. Pedrome). Queluz: Alda Editores. (Obra original publicada em 1984).
- Marujo, H. A., Neto, L. M., & Perloiro, M. F. (1999). Educar para o Optimismo. Lisboa: Editorial Presença.
- Ramalho, V. (2002). Lá em casa mandam eles? Braga: Psiquilíbrios.
- Ribeiro, M. J. (2003). Ser Família: construção, implementação e avaliação de um programa de Educação Parental. Braga: Universidade de Minho (Dissertação de Mestrado em Psicologia Escolar apresentada ao Instituto de Educação e Psicologia).