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Crianças com Perturbações do Espectro do Autismo
Dezembro, 2010
Instituto de Apoio à Criança - Centro de Estudos e Documentação sobre a Infância

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O Autismo inclui-se no grupo das "Perturbações Globais do Desenvolvimento". Este conjunto de perturbações é caracterizado por um défice grave e global em diversas áreas do desenvolvimento: 1) competências sociais; 2) competências de comunicação ou 3) pela presença de comportamentos, interesses e actividades estereotipadas. Os défices qualitativos que definem estas perturbações são claramente inadequados para o nível de desenvolvimento do sujeito ou para a sua idade mental.

Presentemente, o Autismo é visto como a perturbação central de um conjunto de perturbações, que partilhando numerosos aspectos do "síndroma central" (Marques, 2000), não correspondem aos critérios exigidos para esse diagnóstico. De facto, considera-se a existência de um espectro de perturbações, que alguns autores chamaram de "Perturbações do Espectro do Autismo" (…)

O Autismo é das mais frequentes perturbações do grupo das Perturbações do Espectro do Autismo, pelo que integra em si uma variedade de perturbações, nomeadamente: Perturbação de Rett, Perturbação Desintegrativa da Segunda Infância, Perturbação de Asperger e Perturbação Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação.

CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO

As características do Autismo são: a presença de um desenvolvimento acentuadamente anormal ou deficitário da interacção e comunicação social e um reportório acentuadamente restritivo de comportamentos, actividades e interesses. As manifestações desta perturbação variam muito em função do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do sujeito.

Ao nível da interacção social os sintomas incluem:

• Acentuado défice no uso de múltiplos comportamentos não verbais, tais como contacto ocular, expressão facial, postura corporal e gestos reguladores da interacção social;
• Incapacidade para desenvolver relações com os companheiros, adequadas ao nível do desenvolvimento;
• Ausência da tendência espontânea para partilhar com os outros prazeres, interesses ou objectivos (por exemplo, não mostrar, trazer ou indicar ou objectos de interesse);
• Falta de reciprocidade social ou emocional.

Os défices de comunicação incluem:

• Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral (não acompanhada de tentativas para compensar através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas);
• Nos sujeitos com um discurso adequado, uma acentuada incapacidade na competência para iniciar ou manter uma conversação com os outros;
• Uso estereotipado ou repetitivo da linguagem idiossincrática;
• Ausência de jogo realista espontâneo, variado, ou de jogo social imitativo adequado ao nível de desenvolvimento.
Na área dos comportamentos, interesses e actividades existem frequentemente interesses absorventes e invulgares:
• Preocupação absorvente por um ou mais padrões estereotipados e repetitivos de interesses que resultam anormais, quer na intensidade quer no seu objectivo;
• Adesão, aparentemente inflexível, a rotinas ou rituais específicos, não funcionais;
• Maneirismos motores estereotipados e repetitivos (por exemplo, sacudir ou rodar as mãos ou dedos ou movimentos complexos de todo o corpo);
• Preocupação persistente com partes de objectos.

O Autismo pode manifestar-se por atraso ou desvio no desenvolvimento, antes dos três anos de idade, em algumas áreas, nomeadamente: na interacção social, na comunicação social e no jogo simbólico ou imaginativo.

Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2000), no Autismo não existe nenhum período de desenvolvimento sem problemas. Porém, já têm sido relatados casos em que ocorreram 1 ou 2 anos de desenvolvimento aparentemente normal.

Alguns pais de crianças portadoras de Autismo relatam uma regressão a nível da linguagem, que geralmente se manifesta através de uma extinção da linguagem, após a criança ter adquirido 5 a 10 palavras. No entanto, o DSM-IV-TR (APA, 2000) considera que se existe um período de desenvolvimento tido como normal, este nunca se entende demasiado, cobrindo apenas o período até aos 3 anos de idade.

Perturbação de Asperger

A Perturbação de Asperger (também conhecida como "Síndrome de Asperger") tem em comum com o Autismo as incapacidades sociais e os comportamentos restritos e repetitivos (e.g. preocupação absorvente por um tema ou interesse circunscrito, sobre o qual o indivíduo pode reunir uma quantidade enorme de factos ou informações), mas as capacidades da linguagem encontram-se bem desenvolvidas e o funcionamento cognitivo não têm défices.

Lorna Wing (1981) definiu o síndroma de Asperger com seis critérios de diagnóstico:

1. Linguagem correcta mas pedante, estereotipada;
2. Comunicação não verbal - voz monótona, pouca expressão facial, gestos inadequados;
3. Interacção social não recíproca, com falta de empatia;
4. Resistência à mudança, preferência por actividades repetitivas;
5. Coordenação motora - postura incorrecta, movimentos desastrados, por vezes estereotipias;
6. Capacidades e interesses - Boa memória mecânica, interesses especiais circunscritos.

PREVALÊNCIA

A taxa de prevalência das PEA tem vindo a aumentar, devido a uma maior sensibilidade do diagnóstico desta patologia e do desenvolvimento de instrumentos de avaliação mais precisos. Segundo Marques (2000), cerca de 21 em cada 10.000 indivíduos apresentam "Perturbações do Espectro do Autismo". Por sua vez o DSM-IV-TR (APA, 2000) estima que a taxa média da Perturbação Autística, em estudos epidemiológicos, é de cinco casos em dez mil indivíduos, tendo sido relatadas taxas que variam entre dois e vinte casos por dez mil indivíduos. Relativamente à Perturbação de Asperger, não são feitas quaisquer estimativas neste manual, por se considerar que não existem dados definitivos.

Actualmente, alguns autores consideram que os sintomas destas patologias podem melhorar. Contudo, a grande maioria das crianças diagnosticadas com PEA vão manter este diagnóstico quando crescerem.

O número de critérios assim como a severidade dos sintomas pode variar com a maturidade, especialmente se a criança for alvo de uma intervenção educacional adequada às suas limitações, mas os défices centrais tendem a manter-se.

CAUSAS DO AUTISMO

Nos anos 40 e 50 acreditava-se que a causa do autismo residia nos problemas de interacção da criança com os pais. Várias teorias sem base científica e de inspiração psicanalítica culpabilizavam os pais, em especial as mães, por não saberem dar respostas afectivas aos seus filhos. Esse período foi dramático e levou algumas mães a tratamento psiquiátrico e em extremo, ao suicídio.

A partir dos anos 60, a investigação científica, baseada sobretudo em estudos de casos de gémeos e nas doenças genéticas associadas ao autismo (X Frágil, esclerose tuberosa, fenilcetonúria, neurofibromatose, diversas anomalias cromossómicas) mostrou a existência de um factor genético multifactorial e de diversas causas orgânicas relacionadas com a sua origem. Estas causas são diversas e reflectem a diversidade das pessoas com autismo.

Parece haver genes candidatos, ou seja uma predisposição para o autismo o que explica a incidência de casos de autismo nos filhos de um mesmo casal. É possível existirem factores hereditários com uma contribuição genética complexa e multidimensional.

Alguns factores pré-natais (ex. rubéola materna, hipertiroidismo) e perinatais (ex. prematuridade, baixo peso ao nascer, infecções graves neonatais, traumatismo de parto) podem ter grande influência no aparecimento das perturbações do espectro do autismo.

Há uma grande incidência de epilepsia na população autista (26 a 47%) enquanto na população em geral a incidência é de cerca de 0,5%.

Há também estudos post mortem em curso sobre as anomalias nas estruturas (cerebelo, hipocampus, amígdala) e funções cerebrais das pessoas com autismo.

É necessário continuar a desenvolver a investigação sobre o autismo e, embora haja muitos estudos em curso, ignoramos qual o seu impacto no futuro das crianças e jovens com autismo.

Há contudo, neste momento uma conclusão importante que reúne o consenso da comunidade científica: não há ligação causal entre atitudes e acções dos pais e o aparecimento das perturbações do espectro autista. As pessoas com autismo podem nascer em qualquer país ou cultura e o autismo é independente da raça, da classe social ou da educação parental.

DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS COM AUTISMO

O autismo é uma perturbação global do desenvolvimento infantil que se prolonga por toda a vida e evolui com a idade. O bebé com autismo apresenta determinadas características diferentes dos outros bebés da sua idade. Pode mostrar indiferença pelas pessoas e pelo ambiente, pode ter medo de objectos. Por vezes tem problemas de alimentação e de sono. Pode chorar muito sem razão aparente ou, pelo contrário, pode nunca chorar.

Quando começa a gatinhar pode fazer movimentos repetitivos (bater palmas, rodar objectos, mover a cabeça de um lado para o outro). Ao brincar, não utiliza o jogo social nem o jogo de faz de conta. Ou seja, não interage com os outros, pode não dar resposta aos desafios ou às brincadeiras que lhe fazem. Não utiliza os brinquedos na sua função própria. Um carro pode ser um instrumento de arremesso e não um carro para rodar no caminho. Uma boneca pode servir para desmanchar e partir mas não para embalar.

Dos 2 aos 5 anos de idade o comportamento autista tende a tornar-se mais óbvio. A criança não fala ou ao falar, utiliza a ecolália (a criança repete (ecoa) o mesmo som, repetitivamente) ou inverte os pronomes. Há crianças que falam correctamente mas não utilizam a linguagem na sua função comunicativa, continuando a mostrar problemas na interacção social e nos interesses.

Os adolescentes juntam às características do autismo os problemas da adolescência. Podem melhorar as relações sociais e o comportamento ou, pelo contrário, podem voltar a fazer birras, mostrar auto-agressividade ou agressividade para com as outras pessoas.

Fontes:
Necessidades dos pais de crianças com perturbações do espectro do autismo: estudo desenvolvido em três instituições especializadas da cidade do Porto (2005)
DSM-IV-TR, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 4ª ed., Texto Revisto, Lisboa, Climepsi Editores, 2002
Site da Federação Portuguesa de Autismo

in InfoCEDI Abril 2010 nº 25
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