Os cardiologistas estão preocupados com o estilo de vida das crianças, lembrando que a vida sedentária e má alimentação coloca os mais novos em risco de sofrerem doenças cardiovasculares.
Todos os anos morrem em Portugal 20 mil mulheres e 16 mil homens vítimas de doenças cardiovasculares, um número que no futuro poderá disparar devido ao estilo de vida das crianças, alertou o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), Manuel Carrageta.
As crianças estão agora no centro das preocupações dos cardiologistas, que lamentam que as brincadeiras de rua tenham sido substituídas pela televisão e jogos de computador e a alimentação saudável por restaurantes "fast-food".
Para os especialistas, o resultado desta mudança -- a obesidade infantil - é inquietante. "A evolução das doenças cardiovasculares começa com os factores de risco. As crianças têm um estilo de vida moderno que leva à obesidade infantil, têm o colesterol mais elevado que se vai depositar nas paredes das artérias e leva ao seu entupimento, havendo mais risco de enfarte de miocárdio e de Acidente Vascular Cerebral (AVC)", explicou o cardiologista, lembrando que as crianças deviam fazer uma hora de exercício físico intenso por dia.
Manuel Carrageta lembra que, habitualmente, quem tem excesso de peso tem tensão arterial e colesterol mais altos assim como tem mais tendência para se tornar diabético.
Em Portugal, quatro em cada dez óbitos têm como causa doenças cardiovasculares mas bastava controlar os principais factores de risco para evitar a maioria destas mortes.
A fundação celebra no sábado o Dia Mundial do Coração com diversas iniciativas em Odivelas que pretendem alertar para a importância da prevenção mas também desconstruir a ideia de que "as mulheres sofrem de coração mas não morrem".
"Existe um mito de que as doenças do coração atingem os homens e os idosos", contou à Lusa o presidente da fundação, lembrando que em Portugal a principal causa de morte das mulheres são precisamente as doenças cardiovasculares.
Segundo Manuel Carrageta, "o coração das mulheres é frágil e vulnerável", mas "elas têm uma falsa sensação de segurança".
As doenças cardiovasculares são altamente evitáveis através do estilo de vida e controle dos factores de risco, que passam por uma alimentação saudável, exercício físico e não fumar.
No entanto, "enquanto os homens estão a diminuir o consumo de tabaco, as mulheres estão a aumentar. Além disso, as mulheres estão um pouco condicionadas a realizar actividade física, porque têm uma vida mais complicada", lamentou o cardiologista.
A partir de uma determinada idade - 50 anos para as mulheres e 40 anos para os homens - é aconselhável a realização de exames periódicos de saúde. "Costumamos dizer às pessoas que é preciso conhecer os seus números. Devem medir a pressão arterial, os níveis de colesterol e glicose, assim como saber qual o seu peso e massa corporal. Através destes dados é possível calcular os riscos de vir a sofrer um acidente cardiovascular", alertou o presidente da FPC.