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6 a 15 por cento das crianças são bipolares
29-09-2009
Correio da Manhã
  Perturbação: Mudanças extremas de humor podem ser um sinal de alerta.

Reconhecida como uma perturbação mental, a mania caracteriza-se pela mudança exacerbada de humor que oscila entre a euforia ou irritabilidade, agitação ou agressividade, o sentimento de grandiosidade, aceleração psicomotora, excesso de energia e pouca necessidade de dormir. Associado a esta perturbação está normalmente o espectro bipolar. De acordo com Paula Correia, pedopsiquiatra no Centro Hospitalar Cova da Beira,  na doença bipolar tipo 1 há episódios de mania e hipomania. A mania é mais grave, dura cerca de dez dias e pode haver necessidade de internamento porque o doente tem o seu comportamento desorganizado, pode haver um quadro psicótico com intenção suicida, embora isso seja mais evidente no adulto. A hipomania pode durar até cerca de quatro dias, mas não necessita de internamento .

Porém, há casos de mania unipolar, em que os doentes revelam episódios de mania de forma cíclica e exclusiva ao longo da sua vida.

Segundo a obra ‘Clinical Aspects of Mania’, entre 6 a 15 por cento das crianças e jovens sofrem de distúrbio bipolar, com episódio maníaco que pode durar até quatro anos, sobretudo nos adolescentes.

Embora ainda não sejam conhecidas as causas nem exista nenhum estudo que revele a incidência desta patologia na população portuguesa, os especialistas defendem que 80 por cento das crianças e jovens com mania têm um familiar com alguma perturbação. Contudo, outros factores podem ser determinantes para o seu desencadeamento, tais como a dificuldade de integração na escola, a incapacidade para gerir uma situação problemática ou até uma relação conflituosa.

Sendo esta uma patologia crónica grave, o diagnóstico precoce é fundamental. "Devemos estar em alerta quando ocorre uma mudança completa entre aquilo que o jovem era e aquilo que é. Se se isola, se não quer falar com ninguém. Outro sinal de alerta é se essas alterações se mantém no tempo."

Ana Isabel Bastos, psicóloga da Associação de Apoio a Doentes Depressivos e Bipolares, explica que a intervenção da ADEB centra-se na área da psicoeducação e reabilitação psicossocial. "As pessoas precisam de ganhar conciência do que é o seu problema. A psicoeducação é muito importante para os doentes, assim como para os familiares", explicou. A responsable adiantou que a melhor forma de explicar a uma criança que sofre de bipolaridade é "descer ao nível dela, explicar-lhe com situações que já viveu, até porque ela não percebe porque gosta da escola e dos amigos e momentos depois estão a brigar com eles".

PORMENORES

DORMEM POUCO

Os doentes podem dormir apenas duas ou três horas para se sentirem bem. Quando despertam, envolvem-se em várias tarefas, embora troquem de actividade com muita facilidade, sem terminarem a última.

PENSAMENTO RÁPIDO

A aceleração do pensamento é outro dos sintomas da mania. As ideias oscilam facilmente, o que faz com que o discurso nem sempre seja perceptível.

POPULAÇÃO AFECTADA

A doença bipolar afectacerca de dois por cento da população e é uma das causas mais importantes de incapacidade, morbilidade e suicídio.

"CARINHO FAZ A DIFERENÇA"

"Ana" (nome fictício) sempre foi uma rapariga "muito carinhosa e com muita força de vontade". Por isso, a doença chegou sem aviso, aos 17 anos, no final do 12º ano.

"Começou por sair com os amigos e demorar horas, sem ninguém saber onde estava. Perdemos um pouco o controlo. Esse foi o primeiro aviso cinco meses antes da situação piorar", recorda a mãe, Maria Camacho.

O agravamento dos sintomas levou a que "Ana" acabasse por ser internada durante um mês, situação que ultrapassou ao entrar para a faculdade e terminar o 1º ano do curso. Actualmente está a recuperar de uma depressão, a segunda fase da doença bipolar.

A mãe relembra os dias difíceis e o sentimento de impotência face a uma doença totalmente desconhecida. "Foi difícil para nós. Hoje em dia, depois de quatro anos, sei que esta doença pode tocar-nos como um cancro, afectando toda a família." Decidida a não se deixar vencer pela doença e movida pelo desejo de ajudar a filha, Maria Camacho deixou de lado a sua profissão e entregou--se, de corpo e alma, a acompanhar a filha. Tudo para que "Ana" tenha um objectivo na vida. "Sou cuidadora 24 horas por dia e não tenho experiência para isso. Não sou uma super mulher, por muito que compense toda a dedicação no final do dia. É uma satisfação enorme. Mas não sei a que tipo de ajuda possa recorrer. O senso comum é que vai ajudando", confessa. Maria Camacho fez um curso na Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares. "Aprendi muito, tenho tudo anotado, mas quando chegam os sintomas, é muito difícil actuar. Sorrir não significa ter mania, estar triste pode não significar estar depressiva." Por isso, "o carinho é que faz a diferença. O pior é o estigma imposto pela sociedade".

PERFIL

Maria Camacho tem 55 anos e vive em Oeiras. Há quatro anos decidiu abdicar da sua carreira profissional em prol do bem-estar da filha, quando o diagnóstico de doença bipolar bateu à porta. Admite não ser uma super mãe, mas garante que a luta tem dado frutos.

NOTAS

ASSOCIAÇÃO APOIA

A Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares (ADEB) tem 3392 associados

INVESTIGAÇÃO

A mania tem sido uma das áreas da Psiquiatria com mais desenvolvimentos terapêuticos nos últimos anos

DIAGNÓSTICO

O facto desta doença ter sintomas semelhantes à hiperactividade leva a confusões no diagnóstico


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