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Ler uma história...

 



O pedreiro descontente

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Lenda japonesa

   Era uma vez um homem pobre que trabalhava numa pedreira, no Japão. O seu nome era Hofus e todos os dias ia até à montanha para cortar grandes blocos de pedra. Morava lá perto, num pequeno casebre de pedra, e era feliz.

   Um dia, foi levar um carregamento de pedra a casa de um homem muito rico. Ao chegar lá, viu tantas coisas bonitas que, quando voltou para a montanha, não conseguia pensar em outra coisa. Ficava-se a desejar dormir também numa cama macia como plumas, com cortinas de seda e cordões de ouro. E suspirava:

   — Ai de mim! Ai de mim!

   Se Hofus fosse rico assim!

   Para sua surpresa, a voz do Espírito da Montanha respondeu:

   — O teu desejo será satisfeito!

   Quando Hofus voltou para casa naquela noite, a pequena cabana desaparecera e no seu lugar erguia-se um grande palácio. Estava cheio de coisas bonitas, e o melhor de tudo era a cama com um colchão de plumas e cortinas de seda com cordões de ouro.

   Hofus decidiu parar de trabalhar. Mas não estava habituado a nada fazer, e o tempo foi passando muito devagar, com os dias a parecerem muito longos!

   Um dia, sentado à janela, viu uma carruagem passar com rapidez. Era puxada por quatro cavalos alvos como a neve e levava um príncipe. À frente e atrás, postavam-se lacaios trajados de azul e branco. Um deles segurava uma sombrinha de ouro sobre o príncipe.

   Quando o pedreiro viu aquilo, começou a sentir-se infeliz e suspirou:

   — Ai de mim! Ai de mim!

   Se Hofus fosse um príncipe assim!

   E, novamente, a mesma voz que ouvira na montanha respondeu:

   — Que sejas um príncipe!

   Imediatamente, Hofus se transformou num príncipe e viu-se a passear numa carruagem, acompanhado por servos em trajes carmesim e dourado, com uma sombrinha de ouro a proteger-lhe a cabeça.

   Durante um certo tempo, foi feliz. Porém, um dia, ao passear pelo jardim, viu que as flores estavam murchas e a relva seca, castanha. E, quando saiu na carruagem, sentiu o sol forte a queimá-lo, apesar da sombrinha.

   — O sol é mais poderoso do que eu – disse para si mesmo, e suspirou:

   — Ai de mim! Ai de mim!

   Se Hofus fosse o sol, aí sim!

   E a mesma voz respondeu:

   — Que sejas o sol!

   E ele de imediato se transformou no grandioso sol. Queimava a relva e os campos de arroz; secava os riachos, e todos, ricos e pobres, sofriam o seu calor insuportável!

   Um dia, apareceu uma nuvem e resolveu descansar na sua frente, escondendo a Terra da sua vista. Ele ficou zangado e exclamou:

   — Ai de mim! Ai de mim!

   Se Hofus fosse uma nuvem assim!

   E a voz, mais uma vez, respondeu:

   — Que sejas uma nuvem!

   E pronto: no mesmo instante, Hofus transformou-se numa nuvem. Flutuava na frente do sol, escondendo-lhe a Terra.

   Dia após dia, a nuvem derramou chuva. Os rios transbordaram, os campos de arroz encharcaram-se. Aldeias inteiras ficaram alagadas. Só as grandes pedreiras na montanha permaneceram intocadas pelas enchentes.

   A nuvem olhou para as pedreiras, ponderando; depois, suspirou:

   — Ai de mim! Ai de mim!

   Se Hofus fosse uma pedreira assim!

   E logo a voz respondeu:

   — Que sejas uma pedreira!

   Num momento, Hofus viu-se transformado numa pedreira e ficou muito orgulhoso! O sol não conseguia queimá-lo, nem a chuva lhe fazia mal.

   — Até que enfim – exclamou — ninguém é mais poderoso do que eu!

   Entretanto, um dia, foi subitamente acordado dos seus sonhos por um forte barulho – pam! pam! pam! – bem nos seus pés. Olhou e viu um pedreiro a bater com as ferramentas na rocha. Mais outro golpe, e a rocha tremeu: um grande bloco de pedra desprendeu-se.

   — Aquele homem é mais poderoso do que eu! – exclamou Hofus, e suspirou:

   — Ai de mim! Ai de mim!

   Se Hofus fosse um homem, aí sim!

   E a voz respondeu:

   — Que sejas tu próprio!

   E, instantaneamente, Hofus voltou a ser o que sempre fora: um pobre pedreiro que trabalhava o dia inteiro na montanha e voltava à noite para o seu pequeno casebre de pedra. Mas ficou contente, e nunca mais desejou ser outra coisa!

William J. Bennett
O Livro das Virtudes II – O Compasso Moral
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1996
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