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Cientistas portugueses fazem avanços no combate da leucemia infantil
05-09-2011
TV Ciência
  Investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM) em Lisboa identificam novo mecanismo que está na origem da leucemia linfoblástica aguda das células T, assim como, uma nova forma de impedir o seu desenvolvimento.

A leucemia linfoblástica aguda das células T é um cancro no sangue que afeta sobretudo as crianças entre os dois e quatro anos, caracterizando-se por um aumento descontrolado do número de linfócitos T, ou seja, um tipo de célula específica do sistema imunitário denominado de glóbulos brancos.

Até agora era aceite pela comunidade científica que na causa deste tipo de leucemia estão mutações genéticas que levam ao crescimento descontrolado das células T, mas os cientistas portugueses apresentam agora avanços surpreendentes num estudo publicado na edição de 04 de Setembro de 2011 da revista científica Nature Genetics. A equipa de investigadores internacionais, liderada por João T. Barata do IMM, indica ter identificado um conjunto de mutações genéticas até agora desconhecido em 9% dos doentes com leucemia envolvidos no estudo.

As mutações identificadas ocorrem num gene que codifica para uma proteína que se localiza na superfície das células T, denominada de recetor de interleucina 7 e que, de acordo com os investigadores, constitui um meio de passagem de informação química entre o exterior e o interior da célula.

Em condições normais, esta transferência de informação ocorre quando uma proteína, denominada de interleucina 7, que circula na corrente sanguínea se liga ao recetor que está à superfície da célula, desencadeando uma série de reações no interior da célula que levam ao desenvolvimento e multiplicação de células T.

Esta transferência de informação torna-se problemática quando ocorre em células que contém um recetor mutado. Uma mutação que os cientistas identificaram nas células de doentes cancerígenos e que, de acordo com os mesmos, faz com que o recetor deixe de necessitar de informação vinda do exterior para promover a multiplicação das células, levando a uma proliferação descontrolado de células e, consequentemente, ao desenvolvimento de um tumor.

"Descobrimos que, apesar de ser essencial para o desenvolvimento e funcionamento das células T, o recetor da interleucina 7 também pode ter um ‘lado obscuro’ e atuar como uma espécie de Mr. Hyde. Em particular, descobrimos que existem mutações que levam à ativação permanente do recetor da interleucina 7 numa percentagem razoável de doentes com leucemia T pediátrica", explica João T. Barata, investigador no IMM e coordenador do estudo, citado em comunicado da instituição.

Mas para além da identificação deste novo mecanismo que pode estar na origem da leucemia linfoblástica aguda das células T, os cientistas portugueses estudaram um conjunto de fármacos, já testado no tratamento da artrite reumatoide, que os cientistas sabem atua em vários passos da cascata de reações acionada pelo recetor da interleucina 7.

Após a identificação de recetores mutados, os cientistas estudaram o impacto destes medicamentos nas células que têm estes recetores à superfície e verificaram que estes fármacos conseguem impedir o crescimento das células mutadas e levar à sua eliminação.

João T. Barata explica que "identificámos o mecanismo que leva a que o recetor esteja sempre ativado nestes doentes e quais as consequências dessa ativação: crescimento descontrolado das células T. Estas observações deram-nos algumas armas para potencialmente atuar sobre estes tumores".

O coordenador do estudo afirma ainda que "estas observações dão-nos a esperança de poder vir a aumentar ainda mais a eficácia e seletividade dos tratamentos atualmente existentes" para este tipo de leucemia infantil.

Scott K. Durum, investigador do National Cancer Institute em Frederick, EUA, envolvido no estudo afirma mesmo que "para além da existência de medicamentos que interrompem esta via, nós queremos desenvolver novos anticorpos contra o recetor de interleucina 7 para tratar estes pacientes".

O estudo agora apresentado envolveu investigadores do IMM mas também do Centro Infantil Boldrini em Campinas, do Brasil, do National Cancer Institute em Frederick, nos EUA, do Erasmus Medical Center, na Holanda e de outros laboratórios europeus e norte-americanos e foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e pelo National Cancer Institute (NIH).


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