Pediatras alertam para o crescente problema do excesso de peso. Pais têm de ser os primeiros a dar o exemplo.
A saúde materna e infantil tem sido uma das áreas da saúde que mais tem progredido em Portugal. Com a forte queda da taxa mortalidade infantil, Portugal é um dos melhores do mundo, situando-se à frente de países como a Inglaterra, Estados Unidos, Austrália, Dinamarca, Suíça, entre outros.
"A maior conquista foi, sem dúvida, a redução drástica da taxa de mortalidade infantil", afirma o pediatra Paulo Oom. Uma taxa que "representa a probabilidade de uma criança com menos de cinco anos morrer por cada 1.000 bebés recém-nascidos." Este especialista lembra os números anteriores: em 1960 era de 109,2 e em 2009 de 3,7.
Também o pediatra Mário Cordeiro subscreve a mesma ideia. "Nos últimos anos houve grandes avanços a nível do bem-estar dos grupos etários pediátricos, com uma enorme baixa da mortalidade perinatal, infantil (1º ano de vida) e também nos outros grupos etários (crianças e adolescentes), diz.
Para este bom desempenho contribuíram factores como a criação de boas condições nas maternidades, do plano de vacinação adequado e ainda do "empenho de muitos profissionais de saúde, não só pediatras mas também médicos de medicina geral e familiar e enfermeiras", lembra Paulo Oom. A vacinação veio, por exemplo, combater as meningites, que contribuíam para a mortalidade infantil, salienta Mário Cordeiro.
E destaca ainda a "baixa das mortes ocasionadas por acidentes." E ainda a progressiva escolarização e uma maior acessibilidade à cultura e ao desporto por parte de crianças e adolescentes como aspectos que contribuem para o bem-estar.
Obesidade não é tendência. É realidade.
O exemplo vem de cima. É frase feita mas não podia estar mais actual. Não há criança que possa ter uma alimentação saudável se os pais - ou educadores - não a puserem em prática. "Culpam-se as cadeias de fast-food, mas o pior é quando a casa de cada um é, ela própria, o pior que esse tipo de comida pode ter", diz Mário Cordeiro.
"A obesidade afecta hoje mais de 12% das crianças entre os dois e os cinco anos e o excesso de peso (categoria anterior à de obeso) está presente em mais de 30% dos jovens portugueses e em 50% da população", revela Paulo Oom. Este é um tema que já é uma realidade e que só pode aumentar, caso não se tomem medidas drásticas agora.
Mário Cordeiro elogia o plano de alimentação das escolas públicas, desenvolvido por nutricionistas, mas critica os hábitos alimentares diários em casa dos portugueses. Há "excesso de gordura animal (da carne e do leite) de fritos, calorias, ausência de legumes, excesso de refrigerantes e colas e pouca água, muitas bolachas mas pouco pequeno almoço... enfim erros que conduzem à obesidade e a outros problemas do estômago e cólon e do corpo em geral." Este especialista reforça a ideia que o excesso de proteínas animais conduzem a problemas renais em idades precoces, além dos problemas cardiovasculares das gorduras da carne e dos fritos ou a diabetes.
E se, a acrescentar a uma dieta desequilibrada, se juntar um estilo de vida sedentário e a tendência familiar, tudo se complica ainda mais. "De nada serve dizer a pais obesos que o filho é obeso e que precisa de alterar a sua alimentação e estilo de vida se os pais não estiverem dispostos a o fazer também."
A prevenção dos acidentes, segundo Mário Cordeiro, "continua a ficam aquém do desejável, porque falta interiorizar uma cultura de segurança." Mas há um conjunto de outras preocupações quando se fala em saúde infantil: divórcios, famílias reconstituídas, mudança de escola ou de local de residência e respectivo desenraizamento, carências em alguns sectores da sociedade, o lidar com as novas tecnologias com bom-senso, como sublinha o mesmo especialista. Sem esquecer "o excesso de bens contrastando com ausência de regras, limites e empatia, que fazem de mutas crianças pequenos ditadores, narcísicos e omnipotentes que darão, no futuro, pessoas infelizes que farão os outros à sua volta, infelizes também", explica Mário Cordeiro.
Já Paulo Oom debate-se diariamente com o problema da insegurança de muitos pais sobre a forma de educar os seus filhos. Independentemente do que a motiva, a insegurança é assunto de conversa em muitas consultas de pediatra, garante o especialista. "Os pais devem ser ajudados nesta área, sob pena de estarmos a criar uma geração completamente impreparada para lidar com as adversidades que a vida lhes vai colocar à frente", diz.
Dia Mundial da Saúde
João Francisco ALves - 5 anos, Pré-escolar
O João ainda não anda na primária mas já tem grandes certezas, como a certeza que os donuts "não fazem bem mas eu gosto muito." E diz isto enquanto dá grandes dentadas no donut do lanche. Mas também sabe enumerar uma lista de alimentos saudáveis. Fala da alface e da cenoura. E do pesadelo chamado couve-flor. "Eu odeio couve-flor porque a couve-flor tem uma coisa branca lá dentro e eu não gosto", explica. Diz que come sopa todos os dias e que "as preferidas são de cenoura e canja." Para ele, alimentação saudável é comer alimentos saudáveis que "são bons para crescer e ficar fortes, senão o cerébro fica maluco e não consegue pensar." Quanto ao que os pais lhe chamam mais à atenção em casa para comer, João responde "às vezes couve-flor." E porque a tentação é grande desde pequenino, "podes pôr um intervalo para eu ver se há pastilhas?"
Inês Cruz - 13 anos, 1º ano do 2º Ciclo
Diz que não gosta de chocolate. "Não me faz falta nenhuma." Inês Cruz ainda na semana passada ouviu falar na sala de aula de alimentação saúdavel. É uma matéria que aprendeu bem. "Para mim ser saudável é uma pessoa que se preocupa com o seu bem-estar, com o seu corpo, que come bem e pratica desporto diariamente", afirma. De si, diz que é "magra" e que faz educação física e voleibol (actividade extra-curricular) duas vezes por semana. Considera que tem uma alimentação saudável e diz que a sua comida preferida é "picanha - mas não como a gordura - com batata cozida e muita salada. Adoro alface." A caminho dos 14 anos, Inês Cruz tem bem presente que não deve abusar das batatas fritas que tanto adora e deixa um conselho aos mais pequenos: "Obedeçam aos pais e comam comidas mais simples."
Hugo Fonseca Rosa Nunes - 8 anos, frequenta o 3 º ano do 1º Ciclo
Hugo come sopa todos os dias e gosta muito, "principalmente as da avó". Aos oito anos já tem noção do que faz bem e está atento aos conselhos que os pais lhe dão. À pergunta o que é uma alimentação saudável não hesita em responder "comer vegetais e coisas que façam bem à saúde", sem esquecer a fruta e o leite. Isto "para termos saúde, sermos fortes e espertos". Sobre o que faz mal à saúde aponta o dedo "às batatas-fritas em excesso, hambúrgueres, carne em geral e alimentos com muito sal". Hugo acha que é um menino normal e que não é gordo. O que mais gosta de comer é "Nestum de manhã e pão com manteiga e leite simples, à tarde." Torce o nariz ao queijo, ao leite com chocolate, ao chocolate e às vezes à cenoura. Às outras crianças deixa o conselho para comerem "vegetais, fruta e sopa. O que a vossa mãe vos diz para poderem ser saudáveis."
Ema cardoso - 6 anos, frequenta o 1º ano do 1º ciclo
"Coisas verdes" não são com ela. Salada nem vê-la, a sopa come-a porque a avó lhe dá na boca. Ema Cardoso, 6 anos, gosta, isso sim, de gomas, chocolates e pastilhas. São os seus "alimentos" preferidos, e pede-os até quando tem fome. Apesar de saber que fazem mal... Na escola, demora muito a acabar qualquer que seja a refeição mas em casa a persistência da família em lhe dar o melhor para comer - sopa, fruta e vegetais todos os dias - tem resultado. Até agora, tem sido uma criança saudável. E apesar das gomas, é bastante magra. Razões para que tal aconteça? A genética ajuda bastante (os pais são ambos magros). A "genica" também (Ema não consegue estar parada). E o desporto que faz quatro vezes por semana (duas vezes judo e duas vezes ballet) ajudará a gastar as calorias das pastilhas que, às escondidas, vai consumindo.
Guilherme carvalho - 12 anos, frequenta o 7º ano
"Comer todos os alimentos mas não em excesso, respeitar a roda dos alimentos e comer muita fruta, legumes e sopa." É assim que Guilherme Carvalho descreve uma alimentação saudável. Os pais são exigentes com a alimentação e Guilherme admite que "comer sopa todos os dias em casa é obrigatório", daí que confesse que "por opção, nem sempre come sopa na escola." Garante que sabe o que faz mal à saúde: "comida de plástico, pizzas e refrigerantes" e que o que mais gosta de comer: "cenoura, couve-flor e bróculos, faz bem à saúde", tal como as suas frutas preferidas "banana, papaia, maçã e melão". Guilherme pratica rugby e sabe que isso o ajuda "a eliminar gorduras e a evitar ser gordo". De comida saudável, não hesita em dizer que é necessário "para termos uma vida mais longa, não sermos obesos e não termos doenças".