As paredes do 7º andar do Instituto Português de Oncologia (IPO), em Lisboa, estão repletas de desenhos. Em cada esquina há brinquedos e mensagens de esperança. Nas salas de actividades, miúdos pequenos brincam e soltam gargalhadas contagiantes, alheios ao facto de estarem doentes. É ali que crianças entre os 0 e os 15 anos lutam contra o cancro.
O cancro constitui a primeira causa de morte não acidental após o primeiro ano de vida, sendo diagnosticados cerca de 300 novos casos todos os anos em Portugal.
No IPO de Lisboa, a média de crianças em tratamento é de 170, mais de metade dos casos registados em todo o País.
Segundo a pediatra Filomena Pereira, que trabalha na oncologia infantil há duas décadas, o cancro mais frequente na criança é a leucemia aguda, sendo a taxa de cura de 85%. No conjunto das doenças oncológicas, essa taxa é de 75%, percentagem considerada pela especialista como "bastante positiva".
Um dos factores que mais contribui para este sucesso é abordagem terapêutica. "O cancro da criança é muito agressivo e mais fácil de ser diagnosticado" do que o dos adultos, refere Filomena Pereira sublinhando que as crianças respondem muito melhor à quimioterapia". O tratamento é feito com medicamentos, cuja função é actuar nas células dos tumores, destruindo-os. Quimioterapia e radioterapia são os tratamentos mais comuns.
As terapêuticas aplicadas às crianças são menos agressivas e mais eficazes: geralmente coloca-se um cateter por onde se administram os fármacos ou se fazem recolhas de sangue.
As possibilidade de cura nos casos de leucemia, refere Filomena Pereira, são muito superiores do que eram há 20 ou 30 anos porque surgiram no mercado novos fármacos e houve uma grande evolução na qualidade de vida das crianças.
PAPEL DOS PAIS É FUNDAMENTAL
As doenças oncológicas infantis surgem na maioria dos casos sem explicação aparente, ou seja, sem antecedentes familiares, o que numa primeira abordagem causa choque e pânico às famílias. O papel dos pais é vital no combate ao cancro infantil e a prioridade da equipa do IPO é estabelecer laços de confiança com as famílias: "Costumo dizer aos pais que vamos entrar numa guerra e vamos ganhar. E vale a pena porque temos muitas hipóteses de curar", diz a pediatra Filomena Pereira.