Plano Nacional de Leitura inclui 12 obras de literatura infantil dedicadas a divulgar a cultura transmontana.
Será possível ensinar a cultura, a memória e as tradições transmontanas através de livros infantis? É. Pelo menos, o Plano Nacional de Leitura já integra 12 livros do género, escritos pelo investigador Alexandre Parafita.
Segundo aquele professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, os livros proporcionam aos mais novos residentes em qualquer zona do país a possibilidade de "descobrir ou redescobrir a identidade do povo transmontano". Como? "Através de gigantes diabólicos que construíram pontes e calçadas, mouros que arrasaram montanhas e desviaram rios, fadas que distribuíram grandes tesouros, trasgos e olharapos que aterrorizaram moleiros e pastores".
Os caretos fazem parte das mitologias de Inverno de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Entre a dúzia de obras, o autor destaca, por exemplo, o livro "Diabos, diabitos e outros mafarricos". Através dele, é possível descobrir que existiu uma "raça de pequenos duendes", que eram conhecidos por "trasgos". São personagens habituais em lendas de moinhos, castros e ruínas de aldeias abandonadas de Trás-os-Montes.
A ponte de Abreiro, no concelho de Mirandela, tem uma história associada à sua construção, que ficou conhecida como "o mito do diabo, a menina e a ponte". Conta como uma criança conseguiu enganar o diabo e o convenceu a construir uma ponte sobre o rio Tua, ainda que seja imperfeita.
Uma vez no Plano Nacional de Leitura, desde a adopção de um dos livros pela escola até à sua dramatização e/ou teatralização vai um pequeno passo. Ora, a brincar a brincar, a mensagem vai passando entre as crianças e destas para a família.
As paisagens do Alto Douro Vinhateiro Património Mundial aparecem e convidam entre as páginas de "Memórias de um cavalinho de pau", que cavalga por entre os coloridos vinhedos que dão o generoso e que custaram tanto a tornear pelos nossos antepassados.
A qualidade do azeite produzido em Trás-os-Montes, bem como das amêndoas do Douro, passam, como mensagem publicitária, através de outras lendas vertidas sobre os demais livros.
Conta-se o ciclo do linho por meio dos contos populares recolhidos pelo escritor e desvendam--se os segredos dos pastores gaiteiros das serras transmontanas. Tal como descreve os rituais das bruxas nos meios rurais e dá voz aos animais para ensinar os cuidados a ter em defesa da natureza. Alexandre Parafita não tem dúvidas de que é possível, através da literatura infantil, fomentar "a educação para a identidade e memória". Por outro lado, reforça, "ajuda os mais novos a sentirem--se protegidos pela matriz das suas raízes, aprendendo a respeitá-las". Ora, numa altura em que existe grande preocupação entre alguns sectores culturais pela eventual perda das memórias e tradições das gerações mais velhas, Alexandre Parafita frisa que as crianças, desde que devidamente preparadas para tal, poderão ser "os guardiões da sua identidade". E dada a temática, opina mesmo que este pode ser um meio para "estimular o gosto pela leitura e combater os níveis de iliteracia no país".