Seetetelane era um rapaz pobre. Não tinha terra, nem vaca, nem mulher. Vivia só, na savana. Caçava arganazes para comer. Das pequenas peles fazia a roupa.
Um dia, andava ele à caça de arganazes, quando encontrou um ovo de avestruz, o maior que já alguma vez vira.
– Que sorte! – exclamou Seetetelane. – Até que enfim a sorte chega a alguém tão pobre como eu! Vou levar o ovo para a minha palhota. Vai ficar lá abrigado até vir a época das chuvas.
Arrastou o ovo até à sua palhota e, pelo caminho, ia pedindo que a sorte o não abandonasse e o fizesse feliz.
– Espero bem – exclamava. – Espero que a sorte fique comigo!
Guardou o ovo debaixo do telhado de palha e voltou à caça de arganazes.
Quando regressou muito tarde, viu, para surpresa sua, que a palhota estava arrumada. Em cima da mesa estava um pão acabado de cozer e, ao lado, um jarro com cerveja também fresca.
– Como é possível? – exclamou Seetetelane. – Até parece que passou por aqui alguma mulher! Como nos meus sonhos mais lindos!
Mas, como estava com fome, não pensou mais nisso. Comeu, bebeu, e ficou satisfeito.
No segundo e terceiro dia, aconteceu o mesmo: quando Seetetelane regressava à noite, parecia que uma mulher tinha arranjado tudo com amor. No quarto dia, ao sair para a caça, Seetetelane esqueceu-se do cachimbo na palhota. Voltou atrás e reparou que estava alguém dentro da sua palhota.
Aproximou-se devagar e pôs-se à espreita. Uma rapariga desconhecida, bonita, arrumava a casa, enchia o jarro de cerveja e punha pão fresco no cesto. Quando tudo estava já em ordem, a rapariga ia enfiar-se no ovo de avestruz.
– Não! – gritou Seetetelane e segurou-a pela mão. – Fica aqui! Fica comigo!
Respondeu-lhe a rapariga:
– Tiveste tanta esperança e desejaste tanto, que a sorte veio ter contigo. Fico de boa vontade. Mas nunca poderás censurar-me por ser uma rapariga simples, saída de um ovo de avestruz!
Seetetelane prometeu.
Viveram felizes um com o outro.
Certo dia, Seetetelane disse:
– É bom estar contigo. Mas tenho saudade de estar com outras pessoas com quem possa falar, comer, festejar.
A rapariga pegou num malho, saiu de casa e começou a bater num monte de erva à porta da palhota. Do tufo de erva começaram a sair pessoas, velhos e novos, vacas que mugiam, cães que ladravam.
Seetetelane ao ouvir aquele barulho, saiu da palhota a correr.
– Agora já não tens motivo para te sentires só – disse-lhe a rapariga.
As pessoas saídas do tufo de erva rodeavam Seetetelane.
– Prosperidade e saúde, chefe! – exclamavam eles. Os cães abanavam as caudas.
Seetetelane era agora o chefe da tribo. Já não usava roupas feitas com pele de arganaz mas sim de pêlo macio de chacal, e dormia numa bela esteira. Tinha o suficiente para comer e beber, e tinha pessoas que trabalhavam para ele. Estava muito satisfeito com a vida.
Uma noite, Seetetelane tinha acabado de esvaziar o jarro da cerveja. Levantou-se para chamar a rapariga mas não a viu. Então zangou-se e gritou:
– Onde é que te meteste, rapariga do ovo de avestruz?
A rapariga apareceu e olhou com ar triste para Setetelane.
– Já te esqueceste do que tinhas prometido, Seetetelane?
– Ora… – respondeu ele. Esvaziou a caneca e adormeceu.
No dia seguinte, quando acordou, nem queria acreditar no que os seus olhos viam: estava deitado na sua antiga esteira, com a roupa velha de pêlo de arganaz. O jarro com cerveja, os copos bonitos, o pão, as iguarias, tudo tinha desaparecido.
A rapariga também tinha desaparecido e, com ela, o ovo de avestruz, de onde tinha saído. O vento soprava na erva, em frente da palhota. As pessoas todas, as vacas e os cães que a rapariga lhe tinha oferecido, tinham desaparecido.
Seetetelane levantou-se, triste, e foi procurar o ovo de avestruz. Mas, por mais que procurasse, nunca mais o encontrou.
Wilhelm Meissel
Lene Mayer-Skumanz (Org.)
Hoffentlich bald
Wien, Herder Verlag, 1986