Prólogo
O livro Os Mil Pássaros de Sadako é baseado na vida de uma menina que viveu no Japão de 1943 a 1955.
Sadako morava em Hiroshima quando a aviação americana largou uma bomba atómica sobre a cidade. Morreu dez anos depois, devido às radiações emitidas pela bomba.
Graças à sua coragem, Sadako tornou-se uma heroína para todas as crianças japonesas. Esta é a sua história.
Um dia de sorte
Sadako tinha nascido para correr. A mãe gostava de dizer que Sadako já sabia correr mesmo antes de saber andar…
Nessa manhã de Agosto de 1954, no Japão, mal Sadako acabou de se vestir, desatou a correr para a rua. O sol nascente fazia realçar os reflexos de cobre dos seus cabelos pretos. Nenhuma nuvem escurecia o céu azul. "É bom sinal", disse para consigo Sadako, que estava atenta ao menor presságio.
De regresso a casa, viu que os irmãos ainda dormiam, deitados nos seus pequenos colchões. Sacudiu Masahiro, o irmão mais velho:
— Levanta-te, preguiçoso, é o Dia da Paz!
Masahiro resmungou e bocejou. Como qualquer rapaz de catorze anos, gostava de se levantar tarde. Só que a fome já apertava e da cozinha vinha um delicioso aroma de sopa de peixe. Masahiro levantou-se, seguido de Mitsue e Eiji.
Sadako ajudou Eiji a vestir-se. Eiji tinha seis anos mas, às vezes, ainda perdia uma meia ou a camisola interior. Em seguida, ajudada pela irmã, Mitsue, Sadako dobrou os colchões e arrumou-os no armário. Entrou depois na cozinha, como se fosse um turbilhão, e disse à mãe:
— Mamã, estou tão impaciente por ir ao carnaval! Será que poderíamos tomar o pequeno-almoço mais cedo?
A mãe de Sadako estava a cortar cuidadosamente rabanetes marinados, para servir com o arroz e a sopa. Lançou-lhe um olhar severo e ralhou com ela:
— Tens onze anos, minha filha. Na tua idade, já não devias chamar "carnaval" a este dia de recolhimento. Todos os anos, a 6 de Agosto, celebramos a memória daqueles que morreram quando a bomba atómica foi lançada sobre a nossa cidade.
O senhor Sasaki entrou pela porta das traseiras e secundou o que dissera a esposa:
— É verdade. Tens de mostrar respeito. A tua avó foi morta nesse dia funesto.
Sadako protestou:
— Mas eu respeito a avó. Rezo por ela todas as manhãs. Só que hoje estou tão contente…
O pai interrompeu-a:
— A propósito, é tempo de fazermos as nossas orações.
A família Sasaki reuniu-se em torno do pequeno altar onde se encontrava a fotografia da avó, colocada numa moldura dourada. Sadako ergueu os olhos para o tecto e perguntou-se se o espírito da avó estaria a pairar sobre eles.
O pai interpelou-a:
— Sadako!
A menina baixou a cabeça imediatamente. Dançou com os dedos do pé enquanto o pai rezava em voz alta. O senhor Sasaki pediu que o espírito dos seus antepassados estivesse em paz. Agradeceu o salão de cabeleireiro e os filhos maravilhosos que tinha. Rezou para que a leucemia, a chamada "doença da bomba", não afectasse a família.
Muitos Japoneses ainda morriam devido a esta doença, embora a bomba tivesse sido lançada nove anos antes. A atmosfera tinha ficado saturada de radiações, e as pessoas, como que envenenadas para o resto das suas vidas.
Ao pequeno-almoço, Sadako engoliu a sopa e o arroz. Masahiro falou de raparigas que pareciam dragões esfomeados, mas a irmã nem o ouviu. Estava a pensar no que se tinha passado no ano anterior: os banhos de multidão, a música, o fogo de artifício. Ainda sentia o gosto do algodão-doce na boca.
Foi a primeira a acabar o pequeno-almoço e quase virou a mesa ao levantar-se. Era alta para a idade e as suas pernas compridas atravessavam-se no seu caminho.
— Anda lá, Mitsue, ajuda-me a lavar a louça, para podermos sair mais depressa.
Depois da cozinha limpa e arrumada, Sadako atou fitas vermelhas à ponta das suas tranças e saltitou junto à porta da entrada.
A mãe disse-lhe, num tom gentil:
— Sadako, só saímos às sete e meia. Senta-te e espera, sossegada, que estejamos todos prontos.
Sadako sentou-se na esteira. Os pais nunca estavam com pressa! De repente, uma aranha aveludada atravessou a sala. Era um bom presságio. Sadako tinha a certeza de que aquele ia ser um dia fantástico. Colocou a aranha na palma da mão e deitou-a fora com cuidado.
— Digam o que disserem, as aranhas nunca deram sorte! — disse Masahiro.
— É o que veremos! — respondeu-lhe Sadako, alegremente.
O Dia da Paz
A família Sasaki pôs-se a caminho. O dia estava quente e as ruas encontravam-se cheias de gente e de pó. Sadako correu ao encontro de Chizuko, a sua melhor amiga. Conheciam-se desde o infantário. Sadako sentia que iriam ser sempre muito boas amigas.
Chizuko fez-lhe sinal e aproximou-se, sem pressa. Sadako suspirou. Se ao menos a amiga fosse mais rápida.
— Que tartaruga! Despacha-te ou vamos perder tudo!
— Sadako, anda mais devagar por causa do calor — avisou a mãe.
Mas as raparigas já estavam no fim da rua. A senhora Sasaki franziu o sobrolho.
— A Sadako tem sempre tanta pressa que nunca pára para me ouvir.
— Já a viste caminhar, se podia correr, andar a pé coxinho, ou aos saltos? — perguntou-lhe o marido, orgulhoso da filha, que conseguia correr tão longe e tão depressa.
À entrada do Parque da Paz, as pessoas, em silêncio, fizeram fila indiana. Nas paredes do monumento aos mortos estavam expostas fotografias das vítimas, tiradas um pouco por toda a cidade devastada. A bomba atómica, também chamada "bola de luz", transformara Hiroshima num deserto.
Sadako recusou-se a ver aquelas imagens assustadoras. Atravessou o edifício, apertando com força a mão de Chizuko.
— Lembro-me da "bola de luz" — murmurou Sadako ao ouvido da amiga. O céu parecia iluminado por mil sóis. O calor trespassou--me como se mil agulhas estivessem a espetar-me!
— Mas tu não passavas de um bebé! Como podes lembrar-te? — perguntou Chizuko.
— Claro que me lembro! — teimou Sadako.
Os sacerdotes budistas e o presidente da Câmara pronunciaram discursos e depois alguém soltou centenas de pombas brancas, que fizeram um círculo em redor do templo de Genbaku. Para Sadako, estas pombas simbolizavam as almas dos mortos a elevar-se, livres, no céu. Logo que as cerimónias acabaram, Sadako encaminhou a família para a senhora que vendia algodão-doce. A guloseima ainda sabia melhor do que no ano passado. O dia passou depressa, como sempre! Sadako observou tudo o que estava exposto nas prateleiras e cheirou a comida deliciosa. Havia lojas que vendiam de tudo, desde bolos de soja a grilos.
Seria tudo perfeito se não tivesse de se cruzar com pessoas cheias de cicatrizes esbranquiçadas. Tinham ficado tão queimadas pela bomba que já quase não possuíam aparência humana. Sadako não pôde impedir-se de desviar os olhos da primeira que se aproximou dela.
O barulho da multidão aumentava à medida que a noite caía. Logo que o brilho do último fogo de artifício se esbateu no céu, a multidão dirigiu-se para o rio Ohta com lanternas de papel na mão. O senhor Sasaki tivera o cuidado de acender as velas no interior dos seis lampiões, um para cada membro da família. As lanternas ostentavam os nomes dos familiares mortos pela "bola de luz". Sadako escolheu pôr o nome da avó na sua. Quando todas as chamas iluminaram a margem, cada um depôs a sua lanterna no rio, que as conduziria ao mar, como se fossem milhares de pirilampos a flutuar nas águas escuras.
Nessa noite, Sadako demorou a adormecer. Tentou lembrar-se de tudo o que se tinha passado durante o dia. Afinal, Masahiro estava errado. No dia seguinte, Sadako iria dizer ao irmão que a aranha lhe tinha dado sorte.
O Segredo de Sadako
No início do Outono, Sadako recebeu uma notícia tão boa que mal podia esperar para a contar à família. Quando chegou a casa, descalçou os sapatos e abriu a porta com grande alarido.
— Cheguei!
A senhora Sasaki preparava o jantar na cozinha.
— Nem vais acreditar no que tenho para te dizer! Adivinha!
— Passam-se tantas coisas maravilhosas na tua vida, Sadako. Desisto.
— Lembras-te da corrida para a festa das escolas? Fui escolhida pela Turma Bambu para fazer parte da equipa de estafetas.
Sadako dançava na cozinha e fazia voltear a pasta.
— Se ganharmos, serei seleccionada para fazer parte da equipa do colégio!
É o que Sadako mais desejava na vida.
Ao jantar, o senhor Sasaki discorreu longamente sobre o orgulho e a honra familiares. Até Masahiro se sentiu emocionado. Sadako, demasiado excitada para engolir o que quer que fosse, sorria extasiada.
A partir daquele momento, só pensava na corrida de estafetas. Treinava todos os dias e, às vezes, até vinha para casa a correr. Um dia, Masahiro cronometrou-a com o grande relógio do pai, e o tempo de Sadako surpreendeu toda a gente. "Quem sabe", sonhava, "se virei a ser a melhor corredora da escola?"
O grande dia chegou por fim. Uma multidão de pais, familiares e amigos foi assistir às provas. Sadako estava tão nervosa que temia que as pernas não lhe obedecessem. As colegas de equipa pareciam-lhe, de repente, mais pequenas e menos fortes do que as adversárias. A menina confiou os seus receios à mãe, que a tranquilizou:
— É natural que tenhas medo, filha. Mas não te preocupes. Quando estiveres na pista, vais sentir-te forte outra vez.
Chegou a hora da prova.
— Faz o melhor que puderes — disse o senhor Sasaki, pegando na mão da filha. — Temos muito orgulho em ti.
Graças aos ternos encorajamentos dos pais, Sadako sentiu-se menos receosa. "Não importa se ganho ou perco; a minha família gosta de mim", pensou.
Quando deram o sinal de partida, Sadako concentrou-se. Logo que lhe entregaram o testemunho, correu até perder o fôlego. No fim da prova, o coração doía-lhe de tanto bater. Sadako sentiu-se mal. Tinha vertigens e quase não ouvia o anúncio da vitória da sua equipa. Em volta dela, toda a Turma Bambu aplaudia e gritava de alegria. Sacudiu a cabeça uma ou duas vezes e o mal-estar dissipou-se.
Sadako passou o Inverno a tentar melhorar o seu tempo. Se queria entrar na equipa do colégio tinha de treinar todos os dias. Às vezes, depois de ter corrido muito, sentia vertigens, mas decidiu não falar disso a ninguém. Tentou convencer-se de que tudo estava bem, e de que as tonturas iriam desaparecer tão depressa quanto tinham aparecido. Mas não melhorou. Cheia de medo, escondeu este segredo de todos, inclusive da sua melhor amiga, Chizuko.
Na véspera do ano novo, Sadako pediu que o seu mal-estar desaparecesse como por encanto. Tudo seria perfeito se não tivesse de carregar aquele fardo. À meia-noite, confortavelmente coberta com um edredão de penas, ouviu os sinos do templo. Dizia-se que, a cada badalada, os demónios do ano que findava eram expulsos para darem lugar ao novo ano. Sadako repetiu doze vezes o seu desejo.
Na manhã seguinte, como de costume, a família Sasaki juntou-se à multidão que ia homenagear os mortos. A senhora Sasaki estava muito elegante no seu quimono de seda com flores estampadas. Prometeu a Sadako:
— Quando puder, hei-de oferecer-te um lindo quimono. Uma menina da tua idade deve ter sempre um no guarda-roupa.
Sadako agradeceu educadamente mas, naquele momento, ter um quimono era a menor das suas preocupações. Estava obcecada pelas corridas e pela equipa do colégio. No meio de tantas pessoas felizes, conseguiu, por instantes, esquecer o seu terrível segredo. A alegria daquele dia de Inverno afastou as suas inquietações. Ao regressar a casa, fez uma corrida com o irmão mais velho e bateu-o. A senhora Sasaki pendurou por cima da porta os símbolos de prosperidade, que protegeriam a casa ao longo do ano. Um ano que começava tão bem dificilmente acabaria mal.
Um segredo desvendado
Durante várias semanas, as orações e os sinais de bom augúrio pareciam surtir efeito. Sadako sentia-se bem e corria cada vez mais longe e mais depressa.
Mas o seu sonho terminou num dia de Fevereiro, frio e cruel. Sadako estava a correr no recreio da escola quando, de repente, começou a ver tudo à roda e caiu ao chão. Um professor precipitou-se para a ajudar.
— Penso… penso que estou um pouco cansada — disse-lhe Sadako, com uma voz fraca.
Quando tentou levantar-se, as pernas tremeram e cederam. O professor pediu a Mitsue que fosse para casa e prevenisse o senhor Sasaki.
Este fechou imediatamente o salão de cabeleireiro e levou a filha ao hospital da Cruz Vermelha. Ao entrar no hospital, Sadako sentiu muito medo. Uma parte do edifício era reservada às pessoas que sofriam da doença da bomba.
Alguns minutos mais tarde, Sadako foi admitida: uma enfermeira fez-lhe uma radiografia aos pulmões e tirou-lhe sangue para análise. O Dr. Numata examinou-lhe as costas e fez-lhe várias perguntas. Três outros médicos vieram também examiná-la. Um deles sacudiu a cabeça e passou-lhe a mão pelos cabelos.
Toda a família de Sadako foi visitá-la. Os pais falavam com o médico em voz baixa. De repente, a senhora Sasaki exclamou:
— Uma leucemia! Não pode ser!
Mal ouviu aquela palavra aterradora, Sadako tapou os ouvidos. Como podia ela sofrer da doença, se a bomba nem lhe tocara? Uma enfermeira, a senhora Yasunaga, acompanhou-a ao quarto e deu-lhe uma espécie de quimono feito de algodão. Mal Sadako se deitou, a família entrou no quarto.
A senhora Sasaki abraçou a filha.
— Tens de ficar aqui durante algum tempo — disse-lhe, num tom de voz que se esforçava por ser alegre. — Virei ver-te todas as noites.
— Nós… nós vimos depois da escola — prometeu Masahiro.
Assustados, Mitsue e Eiji assentiram.
— É verdade que tenho a doença da bomba? — perguntou Sadako ao pai.
O olhar do senhor Sasaki toldou-se, mas tranquilizou a filha:
— Os médicos querem fazer exames suplementares, é tudo! Penso que terás de ficar aqui duas ou três semanas.
Duas ou três semanas! Mas isso era uma eternidade. Já não iam aceitá-la no colégio. Pior ainda: já não ia poder fazer parte da equipa de estafetas. Com um nó na garganta, Sadako reteve as lágrimas.
A senhora Sasaki sacudiu as almofadas e ajustou a coberta. O pai tossicou.
— Precisas… precisas de alguma coisa?
Sadako abanou a cabeça. Do que ela precisava era de regressar a casa. Mas quando? Sente um nó no estômago. Ouviu dizer que muitas das pessoas que eram internadas nunca regressavam a casa.
A senhora Yasunaga disse que Sadako tinha de descansar e que a hora das visitas terminara. Depois de todos se irem embora, a menina enfiou a cara na almofada e chorou. Nunca se tinha sentido tão só e infeliz na vida.
A grua dourada
Na manhã seguinte, Sadako despertou devagar. Tentou ouvir os barulhos habituais da casa: a mãe a preparar o pequeno almoço… mas só lhe chegaram aos ouvidos os sons novos e diferentes do hospital. Suspirou fundo. Tinha desejado tanto que a véspera não tivesse passado de um sonho mau. Mas a chegada da senhora Yasunaga obrigou-a a encarar a realidade. Vinha dar-lhe a primeira injecção.
— As injecções fazem parte da vida no hospital — cantarolou a enfermeira roliça. — Tens de te habituar.
— Eu quero é ficar boa… para poder regressar a casa.
De tarde, Sadako recebeu a sua primeira visita: Chizuko. A amiga sorria misteriosamente e trazia algo escondido atrás das costas.
— Fecha os olhos — pediu Chizuko. Sadako obedeceu prontamente. A amiga colocou algumas folhas de papel e um par de tesouras em cima da cama.
— Já podes abri-los.
— O que é?
Chizuko sorria. Estava muito contente com a surpresa que acabava de fazer à amiga.
— Pensei muito naquilo que te faria sentir melhor — disse com orgulho. — Olha!
Cortou um grande quadrado de papel dourado e, depois de o dobrar algumas vezes, mostrou o pássaro magnífico que tinha feito: era uma grua.
— Mas como posso melhorar com um origami? — inquiriu Sadako, perplexa.
— Não te lembras da lenda das gruas? — perguntou-lhe Chizuko. — Diz-se que vivem mil anos. Se uma pessoa doente fizer mil, os deuses escutarão as suas preces e curá-la-ão.
Estendeu a grua à amiga.
— Ofereço-te a primeira.
Os olhos de Sadako encheram-se de lágrimas. Chizuko era tão gentil em lhe oferecer este talismã, logo ela que não acreditava em augúrios. Sadako pegou na grua dourada e formulou um desejo. Experimentou uma sensação esquisita no momento em que tocou no pássaro: devia ser um bom sinal!
— Obrigada, Chizuko. Nunca hei-de separar-me dela.
Sadako tentou fazer um pássaro, mas não era tão fácil quanto parecia. Chizuko explicou-lhe as partes difíceis. Em cima da mesa-de-cabeceira, ao lado da grua dourada, Sadako colocou os primeiros dez pássaros que fez. Não eram todos perfeitos, mas para começar…
— Já só faltam novecentos e noventa — disse Sadako.
Sentia-se bem com a grua-talismã junto dela. Dentro de algumas semanas, já teria certamente feito mil. Nessa altura, estaria pronta para regressar a casa.
Nessa tarde, Masahiro trouxe-lhe os deveres da escola. Quando viu todos os origami, exclamou:
— Mas estes pássaros estão a ocupar espaço demais. Deixa-me pendurá-los no tecto.
Sadako sorriu abertamente.
— Prometes que penduras todos os que eu fizer?
Masahiro prometeu.
— Muito bem! — disse Sadako, com os olhos a brilhar de malandrice. — Então vais ter de pendurar mil!
— Mil? Estás a brincar, espero — resmungou o irmão.
Sadako contou-lhe a lenda das mil gruas. Masahiro coçou a cabeça.
— Enganaste-me bem — disse, fazendo uma careta. — Mas vou cumprir a minha promessa.
Pediu fio e tachas à enfermeira e pendurou os primeiros pássaros. A grua dourada continuava na mesa-de-cabeceira. Quando a senhora Sasaki chegou, acompanhada de Mitsue e de Eiji, ficaram os três surpreendidos ao ver os pássaros no tecto. A mãe lembrou-se de um velho poema:
Em papel colorido
Aves entraram voando
Na nossa casa.
Mitsue e Eiji gostavam mais do pássaro dourado. A mãe escolheu o mais pequeno, feito em papel verde com guarda-sóis cor-de-rosa.
— Escolho este porque os mais pequenos são os mais difíceis de fazer.
Depois das visitas saírem, os doentes sentiam-se muito sozinhos no hospital. Para se manter ocupada e optimista, Sadako fez mais alguns pássaros.
Onze… Vou ficar boa depressa…
Doze… Vou ficar boa depressa…
Continua…
Eleanor Coerr
Les mille oiseaux de Sadako
Toulouse, Éditions Milan, 2003
(Tradução e adaptação)